O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, disse nesta terça-feira (26), em depoimento à CPI das Fake News, que o escritor Olavo de Carvalho é “um vigarista profissional”. O militar repudiou comentários publicados por Carvalho em redes sociais sobre a atuação de oficiais do Exército no governo do presidente Jair Bolsonaro. Em uma das publicações, em maio passado, Olavo de Carvalho chamou Santos Cruz de “politiqueiro e fofoqueiro de merda”.

“A pessoa fala que é escritor e filósofo, dá sugestões na área de educação e parte para um palavreado que não dá para repetir aqui”, disse Santos Cruz. Ele afirmou nunca ter lido a obra do escritor. “Acho que ele não tem padrão nem para se expressar. Pode ser que tenha até algumas ideias boas para o público dele em termos políticos, mas o comportamento é um de vigarista. É um vigarista profissional que conseguiu influência em cima de algumas personalidades”, completou.

O general esteve à frente da Secretaria de Governo até o dia 13 de junho. Durante a audiência pública na CPI, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) lembrou que, dias antes de deixar o governo, o militar sofreu mais de três mil ataques nas redes sociais. Segundo o parlamentar, os comentários foram orientados por Olavo de Carvalho.

A defesa de Olavo de Carvalho durante a audiência pública coube ao deputado Pr. Marco Feliciano (Pode-SP).

“Às pessoas que falam em tom pejorativo sobre o professor Olavo de Carvalho, que estudem um pouquinho suas obras. Vocês vão ver que ele é de fato uma pessoa extremamente preparada, habilidosa e não pode sofrer aqui depreciação”, disse Feliciano.

Família Bolsonaro
O general chegou a ser criticado publicamente por Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, e várias mensagens pediram a sua demissão por falta de alinhamento político-ideológico com o governo. Mas o ex-ministro evitou críticas diretas ao presidente Jair Bolsonaro ou aos filhos dele.

“Acho completamente deselegante, e falta de educação, o ataque pessoal. Então, não vou fazer isso.”

“Gangues de rua”
Santos Cruz acredita que o advento das redes sociais criou condições para que “grupos pequenos” perpetuem um “ambiente complicado e nocivo”. Para o ex-ministro, a atuação de grupos extremistas se assemelha a “gangues de rua”, que agem contra os adversários com “estardalhaço e ataques”. De acordo com Santos Cruz, as condutas ilegais devem ser reprimidas pela Justiça.

“A liberdade de expressão não significa que você pode xingar indiscriminadamente, humilhar, intimidar, destruir reputações. A liberdade de expressão com toda essa tecnologia disponível não eliminou o Código Penal. A calúnia, a difamação e a injúria continuam no Código Penal”, lembrou.

Milícias digitais
Durante a audiência pública, o militar caracterizou a atuação das milícias digitais como grupos que adotam “comportamento de seita”, não questionam as orientações do “líder” e manipulam o debate de temas púbicos para manter “um estado de conflito permanente”.

“O raciocínio é binário. Ele é amigo ou inimigo. Quando a coisa é binária, é muito fácil organizar grupos extremistas de qualquer natureza”, disse Santos Cruz.

“Gabinete do ódio”
Parlamentares de oposição questionaram o ex-ministro sobre a atuação do chamado “gabinete do ódio”. De acordo com senadores e deputados, três servidores lotados no Palácio do Planalto teriam sido contratados para criar e divulgar conteúdos falsos na internet e estimular a radicalização política nas redes sociais. A CPI aprovou um requerimento para ouvir os servidores Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz, assessores da Presidência da República. Ainda não há data marcada.

“Eles vieram das redes sociais, das ruas, trabalharam na campanha do presidente Jair Bolsonaro. Eles atuam atacando, humilhando as pessoas. Não é uma turminha de colégio. É uma turma muito séria que sabe o que está fazendo, está coordenada nos ataques, é covarde e se esconde atrás de pseudônimos”, disse o deputado Alexandre Frota.

Santos Cruz confirmou que os três servidores trabalham no gabinete de Jair Bolsonaro, mas disse não saber se eles integram ou se de fato existe a suposta central de boatos. Ele sugeriu que a comissão de inquérito busque o apoio de uma empresa “absolutamente independente” especializada em rastrear a origem e a disseminação das notícias falsas.

O deputado Rui Falcão (PT-SP) disse que ficou convencido da existência de um grupo dentro do governo que atua para manchar a imagem de opositores em redes sociais.

“Ele reconheceu que sofreu um processo de fritura, que acha que uma demissão de ministro é normal, mas é preciso ter ética, é preciso ter coragem moral, então em vários momentos ele deu elementos para que os trabalhos da CPMI possam prosseguir”

Já a deputada Caroline de Toni (PSL-SC) acredita que o depoimento provou justamente o contrário.

“Ele negou a questão de milícias, a questão de perseguição, essas questões aí, demonstrando mais uma vez que essa CPI na verdade tem como objeto criar uma narrativa falaciosa de que o governo Bolsonaro ou a Secretaria de Comunicação do governo utilizaria do meio institucional para fazer algo ilícito.”

Comissão
A CPI foi instalada em setembro deste ano e tem um prazo de 180 dias de funcionamento. Além de investigar a divulgação de notícias falsas no âmbito do governo, a relatora da comissão, deputada Lídice da Mata (PSB-BA) vai propor medidas para tentar coibir a disseminação deste tipo de informação.

Agência Câmara Notícias.

Imagem: Luís Macedo.

guazelli

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