Senadores criticaram nesta quarta-feira (29) o procurador-geral da República, Augusto Aras, que fez críticas públicas à Operação Lava Jato nesta semana. Segundo Aras, a força-tarefa da Lava Jato não tem transparência na distribuição de processos, mantém banco de dados sigiloso sobre seus alvos e violou prerrogativas de investigados.
O procurador-geral foi repreendido pelo líder da oposição, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que acusou Aras de “advogar em favor de pessoas que saqueiam os cofres públicos”.
“A luta contra a corrupção, que assola e destrói nosso país há tanto tempo, deveria ser pauta unívoca, não é questão ideológica”, destacou o senador nas redes sociais.
A líder do Cidadania, senadora Eliziane Gama (MA), acusou “objetivos eleitoreiros” para “manchar” a operação por trás das palavras do procurador-geral.
“Não há como negar os avanços trazidos pela Lava Jato no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no país. Se houve abusos, há instrumentos adequados de controle para coibi-los”, escreveu.
O líder do PSL, senador Major Olimpio (SP), pediu união em favor da Lava Jato, afirmando que o Senado “não irá se calar” e irá “até a última consequência” para defender a operação.
“A Lava Jato é um marco no processo de combate à corrupção. Levaram para a cadeia grandes ladrões de colarinho branco que dilapidaram nosso país. O fim [da operação] só interessa aos malfeitores”.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) chamou de “cínica” a manifestação do procurador-geral e destacou que a corrupção e a impunidade “destróem os sonhos de um Brasil mais justo”.
“Vamos denunciar a atuação do PGR como porta-voz dos ataques à Lava Jato, tentando esconder sob o manto de um garantismo de araque os reais interesses de quem sempre quis ‘estancar a sangria’ e ‘zerar o jogo’, beneficiando os bandidos que roubam este país desde sempre”, escreveu.
O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) denunciou uma “intensa movimentação” contra a Lava Jato, que teria o objetivo de “desqualificar” os investigadores responsáveis pelo “êxito” da operação.
“Não podemos permitir esta inversão absurda que pretende absolver todos os que foram condenados pela Lava Jato e ao mesmo tempo condenar todos os responsáveis pela existência desta operação”.
O senador Lasier Martins (Podemos-RS) também disse que a Lava Jato está “sob ataque”, e cobrou de Aras umas “comprovação” de que o combate à corrupção não será interrompido. Para o senador, a Lava Jato “mudou a trajetória da impunidade” no Brasil.
Em pronunciamento durante a sessão deliberativa, o senador Eduardo Girão (Podemos-CE) relatou que um grupo de senadores teve uma reunião virtual com Augusto Aras nesta quarta-feira. Na conversa, os parlamentares salientaram que as declarações do procurador-geral foram “infelizes”. Segundo Girão, o procurador-geral foi “receptivo”.
— Vemos um quebra-cabeça se articulando para detonar a Lava Jato. Está pegando mal essa situação. Se a população pudesse hoje ir para as ruas, com certeza estaria indo defender a operação. Ela é um patrimônio imaterial do povo brasileiro — disse.
Ao contrário dos colegas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) fez eco às palavras de Augusto Aras e disse que a Procuradoria-Geral da República precisa “iluminar os porões obscuros” da Lava Jato. Para Renan, a força-tarefa incorreu em crimes durante as suas atividades.
“Por que a força-tarefa, abaixo das instituições, resiste a auditoria? Há vestígios de ilegalidades: propinas a procuradores, acordos com o FBI, apropriação de 2,5 bi de dinheiro público e outros”, listou nas redes sociais.
O senador Flávio Arns (Rede-PR) lamentou que “pessoas importantes” como o procurador-geral estejam tentando “denegrir” a Lava Jato e “eliminar as lições” que, segundo o senador, a operação ensinou ao país.
“Confiamos nos juízes e procuradores que estão trabalhando para passar a limpo a história do Brasil. Que [a Lava Jato] sirva de exemplo para o Brasil que queremos, onde a lei atinja a todos”, afirmou.
O procurador-geral Augusto Aras foi indicado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019. Diferentemente dos seus antecessores desde 2001, Aras não fazia parte da lista tríplice elaborada pelas eleições internas do Ministério Público Federal.
Durante sua sabatina no Senado, o atual PGR elogiou o trabalho da Lava Jato, mas disse que a operação havia cometido “excessos” e o seu modelo de atuação é “passível de correções”. A indicação de Aras foi aprovada pelos senadores no fim de setembro, por 68 votos a 10.
Agência Senado.
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