A edição do Fantástico, da Rede Globo, neste domingo (3), entrevistou, com exclusividade, três médicos que denunciaram ameaças da direção da Prevent Senior para o uso do “Kit Covid” a pacientes infectados com coronavírus. Os medicamentos, em questão, não têm eficácia contra a doença.

George Joppert, a esposa Andressa Joppert e Walter Corrêa, disseram que, hoje, sentem medo, apreensão e insegurança, depois das denúncias contra a operadora se tornarem públicas.

Na entrevista, todos reafirmaram a pressão que receberam para a prescrição do kit. Eles também confirmaram que a meta imposta pelas Prevent era para que os médicos atendessem 60 pacientes por cada plantão de 12 horas nos hospitais.

“A intenção de denunciar também é expor a fraude. Expor a fraude do tratamento precoce, a fraude de suposto sucesso de gestão”, afirmou Walter Corrêa.

“Nós estamos fazendo a coisa certa. Nós não somos criminosos. O bem social acho que tem que prevalecer acima de qualquer outra definição, ou de dinheiro ou de lucro”, disse George Joppert.

 “São vidas que eles estão cuidando, e não estão cuidando como deveriam cuidar”, declarou Andressa Joppert.Os três integram o grupo de 12 médicos que elaboraram o dossiê contra a operadora. Todos devem depor à CPI da Covid.

Os médicos relataram que, em 2020, ocorreu muita pressão da Prevent Senior para que eles receitassem o kit, que era distribuído para os clientes do plano de saúde no momento das consultas.

Eles afirmaram que não havia autonomia dos médicos para decidir ou não pela prescrição desses remédios durante a pandemia. “Eles estavam de olho em quem prescrevia ou não. Foi uma coisa que eles tinham um controle, então não havia essa autonomia”, destacou Corrêa.

“Entregava a receita, entregava o kit que já ficava no consultório. Era tudo controlado. Ficava um balde com um monte de saquinho com os kits, era meio constrangedor às vezes, entregava para os pacientes a receita com kit e orientava ‘olha, a gente tem que prescrever, mas melhor usar só as vitaminas, não usa medicação’. E era assim que funcionava”, acrescentou.

“É uma contraindicação para o uso de hidroxicloroquina. Até no próprio protocolo da Prevent é uma contraindicação. Então, mesmo com aquela contraindicação, eu fui orientada. Teria que prescrever, mas eu não prescrevi. E fui chamada atenção”, afirmou Andressa.

Questionada sobre o que poderia acontecer com o médico que não receitasse os remédios ineficazes, ela disse: “Ele teria um castigo. Ficaria sem os plantões uma semana, duas semanas, dependendo do que ele fez. O castigo dele seria isso: não teria o dinheiro dele planejado no fim do mês”.

“Não era necessário que fosse feito uma ameaça aos médicos. O ambiente hostil já fazia isso por si só. A gente já sabia que existe uma sugestão de um protocolo, se você não segui-lo, você vai sofrer sanções. O máximo que acontecia era alguém prescrever e orientar a não usar”, declarou Corrêa, que trabalhou oito anos como plantonista do Pronto Socorro da Prevent Senior.

Ele foi demitido em fevereiro de 2021 e acredita que a razão do desligamento tenha sido justamente por ter deixado de prescrever o kit.

“Apesar de ter ficado muito tempo lá, eu acho que nunca me adequei muito bem às práticas da Prevent Senior. É curioso até eu ter ficado tanto tempo, mas acho que a gota d’água foi no final, a questão de eu ter ficado sem prescrever o kit”, relatou.

Advogada

Na última terça (28), em depoimento à CPI do Genocídio, a advogada Bruna Morato afirmou que o “pacto” firmado entre a Prevent Senior e o “gabinete paralelo” montado no governo Jair Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19 previa a ausência de fiscalização aos experimentos realizados pela rede.

Bruna já havia detalhado a trama envolvendo o Ministério da Economia, o chamado “gabinete paralelo” e a Prevent Senior para avançar em experimentos com a hidroxicloroquina com o objetivo de boicotar o isolamento social.

A advogada apontou a existência de uma espécie de “proteção” por parte do governo Bolsonaro à rede.

“A informação que eu tive é que, uma vez realizado esse pacto, ou aliança, entre esse conjunto de assessores que a CPI denomina “gabinete paralelo”, mas que, na época, eram apenas assessores, é que após esse contato lhe foi transferida certa segurança”, afirmou.

“Então, a Prevent Senior tinha segurança de que ela não sofreria fiscalização do Ministério da Saúde ou de outros órgãos vinculados ao Ministério da Saúde. Inclusive, foi essa segurança que fez nascer neles o interesse de iniciar um protocolo experimental, cientes de que não seriam devidamente investigados ou averiguados pelo ministério”, detalhou.

Reportagem de Lucas Vasques, da Revista Fórum.

guazelli

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