Com crescentes casos de racismo e injúria racial, Curitiba foi palco de mais um lamentável episódio nesta segunda-feira (10), desta vez, envolvendo uma criança de apenas 11 anos de idade. De acordo com a mãe da vítima, a psicóloga Patricia Marluce, durante a ida a uma farmácia da rede Panvel, no bairro Portão, seu filho foi parado pelo segurança da loja após funcionários terem acionado o “botão do pânico”, enquanto a criança andava pelos corredores do estabelecimento.
Patrícia relata que outras pessoas também estavam no local, mas seu filho foi o único a ser questionado pelo segurança do por que estava ali. “Tinha outras pessoas ali dentro, queria saber por que ele [segurança] foi justamente no menino negro”, relata.
Ainda de acordo com a mãe, a gerente da loja justificou-se que aquele não era o procedimento correto, mas que haveria um “suspeito” andando pelo lugar, o que fez os funcionários acionarem o botão do pânico.
“Eu não entendo qualquer outro motivo se isso não é um ato velado de racismo, eu duvido que se fosse uma criança branca de olhos azuis teria sido enquadrada”, disse Patrícia. A mãe ainda relata que seu filho foi retirado do estabelecimento pelo segurança e questionado do “por que estava tão agitado, e o que estava fazendo ali.”
Tanto a mãe quanto a criança prestaram depoimento no Núcleo de Proteção a Criança (Nucria) e fizeram um boletim de ocorrência. Para o advogado da família, Volnei França, é impossível deslocar de racismo o que aconteceu com a vítima.
“O segurança coagiu uma criança negra, menor de idade, para sair da loja e questionou porquê ele estava ali, porquê ele estava tão agitado. Obviamente ele deve ter considerado que o menor estava com uma atitude suspeita dentro da loja. Não dá para deslocar do racismo já que havia outras pessoas no lugar, mas ele foi o único a ser abordado enquanto aguardava sua mãe terminar de fazer suas compras”, afirmou.
Para Juliana Mittelbach, Coordenadora Executiva Adjunta da Rede de Mulheres Negras, o caso envolvendo a criança é mais um que demonstra o racismo estrutural que leva criminalizar a simples presença de negros e negras. “São os corpos negros que são identificados como ‘suspeitos’ por causa da cor. (…) É resultado de racismo estrutural quando uma mãe está pagando no caixa e seu filho que é negro é retirado pela segurança. É racismo quando questionam o lugar onde supostamente não deveríamos estar”, criticou.
Respostas oficiais
O Nucria, via assessoria de imprensa da Polícia Civil, afirmou que “a ocorrência foi registrada e a Polícia Civil realiza diligências preliminares para apurar as circunstâncias dos fatos.”
A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a rede de Farmácias Panvel e pediu explicações sobre o ocorrido. Reproduzimos a seguir a íntegra da nota enviada pela Panvel:
“A Panvel repudia qualquer tipo de preconceito ou discriminação, seja racial ou de qualquer outra origem. Todos os nossos colaboradores são treinados e orientados a prestar o melhor atendimento aos nossos clientes e reforçamos sempre com nossas equipes o compromisso da empresa pelo respeito a todos.”
Reportagem de Gabriel Carriconde, da Brasil de Fato.
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