O canal televisivo bolsonarista Jovem Pan News acusa o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tê-lo censurado depois de decisões que obrigam a emissora a dar direito de resposta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por declarações falsas ou distorcidas feitas por comentaristas do canal.

Decisões como esta não são inéditas e visam dar lisura e equilíbrio ao processo eleitoral. Mesmo assim, a emissora publicou um editorial que distorce a decisão do Tribunal e afirma que o canal foi proibido de falar sobre “fatos” envolvendo a condenação (hoje anulada) de Lula pelo ex-juiz Sergio Moro.

Nos últimos dias, militantes bolsonaristas compartilharam informações falsas, comentários e “análises” que reafirmam a acusação de censura. Em alguns casos, houve até divulgação de imagens que mostravam um suposto “censor” circulando dentro dos estúdios do canal, algo que nunca aconteceu. Não há censores no TSE ou em outros órgãos públicos desde o fim da ditadura.

A advogada Tânia Maria Saraiva de Oliveira, integrante da coordenação da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), é taxativa ao dizer que não houve censura a nenhum programa específico da emissora, e que o canal está agindo de forma a criar a impressão que houve.

“O TSE concedeu três direitos de respostas a Lula porque a Jovem Pan continua veiculando como verdadeiras notícias que já foram desmentidas, que são falsas. É fake news mesmo, na cara dura. Eles continuam falando de coisas que já foram julgadas e já houve revelação de que são fake news”, explica.

Para a advogada, o canal alega querer “liberdade de imprensa” em busca de espaço para divulgar informações mentirosas, atuando em linha com os discursos bolsonaristas, que pregam “liberdade de expressão” para poder fazer discursos de ódio ou defender fechamentos de instituições.

Após a leitura do editorial, na última quarta-feira, a ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel, convertida em comentarista política de extrema-direita, leu no ar uma receita de bolo, em referência a expediente de protesto que se tornou uma das marcas do combate à ditadura militar no país.

“Eles começaram o jornal fazendo brincadeira de ler receita de bolo, que foi uma coisa que a imprensa verdadeiramente censurada durante a ditadura fazia para ironizar os militares que a Jovem Pan diz que ‘não foi tudo isso’, que não houve censura. É muito curioso eles usarem de um argumento e de um recurso que foi usado pelos órgãos de imprensa verdadeiramente censurados no tempo da ditadura que eles não reconhecem”, complementa Tânia Oliveira.

Brasil de Fato.

guazelli

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