A queda no Orçamento do Censo 2020 não vai prejudicar a eficiência da pesquisa. É o que garantiu a presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Susana Cordeiro Guerra, em audiência realizada na última quinta-feira (4) pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara.
O orçamento para a realização do Censo 2020 diminuiu 26%, caiu de R$ 3 bilhões para pouco mais de R$ 2, 2 bilhões. Houve corte também no número de perguntas, comparado ao realizado em 2010. As perguntas básicas caíram de 34 para 25. Na pesquisa de amostra, uma pesquisa mais abrangente, de 103 para 76. A estimativa é de que o tempo de uma pesquisa no questionário básico caia de 7 para 4 minutos e, na pesquisa mais abrangente, que atende apenas uma amostra do total, de 24 minutos para 19 minutos. A remuneração do recenseador aumentou de R$ 3.250 para R$ 3.506.
Segundo a presidente do IBGE, os ajustes seguem à risca os princípios das Nações Unidas para estatísticas.
“O corte do Orçamento não tem nada a ver com os ajustes que foram feitos no questionário. Não dá para discutir com números. Nós apresentamos números aqui em que todos os ajustes feitos no parâmetro do tempo aumentaram a produtividade do recenseador. Com isso conseguimos diminuir o número de recenseadores e remunerá-los melhor. Isso é prova de que tudo que foi ajustado no questionário foi investido na operação”, disse.
Renda familiar
Pelo novo questionário, será investigada a renda total do responsável pelo domicílio, como no Censo 2000; e não mais a renda familiar, como o Censo de dez anos atrás. Mas a informação da renda de todos os moradores vai continuar sendo obtida pelo questionário da amostra.
A representante do Sindicato do IBGE, Dione de Oliveira, questionou a falta de estudos técnicos que motivaram o corte nas perguntas do questionário. Ela afirma que a renda do responsável tem cada vez menos influência na renda total do domicílio.
Emigração
Outra mudança foi a retirada de perguntas sobre emigração, por ser um evento considerado raro, mas os dados serão obtidos com a Polícia Federal e estimativas. Para o demógrafo Antonio Tadeu Oliveira, essa mudança pode gerar distorções, como o do número de brasileiros nos Estados Unidos.
“Se eu for nos dados na Polícia Federal, sabe o que eles vão me dizer? Que o brasileiro emigra para o México ou para um país da América Central. E eu distorço essa informação. Essa informação nunca mais vai ser usada. Sabe quanto tempo ela demorava? 6 segundos. Eu tiro uma informação de 6 segundos e causo um prejuízo para política pública”, observou.
Déficit habitacional
Outra pergunta retirada será sobre o valor do aluguel pago. O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), que pediu a audiência pública, afirma que isso pode dificultar informações sobre o déficit habitacional do país. Ele afirmou que vai pedir um requerimento de informações.
“Baseado em que elementos técnicos houve a mudança e o corte de determinadas perguntas? Isso não foi respondido e faremos um requerimento de informação. E, por fim, uma representação no Ministério Público Federal entendendo que, por não haver base técnica para essa medida, isso pode diretamente afetar políticas públicas que alteram a qualidade de vida das pessoas”, observou Freixo.
Idoso
Em relação ao idoso, a presidente do IBGE, Susana Guerra, afirmou que os itens relativos ao tema não serão atingidos. A contagem da população por idade, sexo e mortalidade estão garantidas na pesquisa do Censo.
O diretor de Pesquisas do IBGE, Eduardo Rios Neto, defendeu o questionário. Ele afirma que existe uma relação entre a probabilidade de erros e o aumento de exposição ao erro, e isso é determinado pelo número de questões respondidas por determinadas pessoas. Por isso, para ele, é necessário um questionário menor para garantir maior qualidade nas informações.
O recenseamento experimental começa em setembro deste ano. O Censo 2020 está previsto para setembro do ano que vem e deve levar três meses para ser concluído. Os resultados irão subsidiar a elaboração de políticas públicas. Também servem como parâmetro para destinação de recursos públicos. A expectativa é de entrevistar 213 milhões de habitantes em 71 milhões de domicílios.
Carência de servidores
Segundo dados do sindicato, o IBGE perdeu pouco menos de 50% de seus servidores: eram 7.153 em 2008 e atualmente são 4.726. O número de aposentados, por ano, aumentou de 182 em 2008 para 450 em 2019.
Agência Câmara Notícias.
Imagem: Vinicius Loures.
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