O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou requerimento para que o deputado Marco Feliciano (Pode-SP) seja convocado a depor na CPI Mista das Fake News, que investiga notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual. O requerimento foi apresentado após a divulgação de um áudio em que o deputado pede ajuda para ações contra Randolfe nas redes sociais. Randolfe e Feliciano são integrantes do colegiado.

A ação de Feliciano veio após uma discussão no Twitter, motivada pelo anúncio de que Randolfe faria uma representação contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, na Procuradoria-Geral da República, por obstrução de justiça no caso Marielle. No áudio, o deputado pede a um aliado ajuda para “organizar um grupo de pessoas para espancar” o senador no Twitter.

Para Randolfe, a atitude é grave e mostra que o deputado não apenas tem conhecimento da atuação de grupos organizados para promover ataques nas redes sociais, as “milícias digitais”, como faz uso delas contra adversários. A atuação desses grupos é um dos alvos das investigações da CPMI das Fake News. O senador criticou a linguagem usada por Feliciano, que, na visão do senador, propaga o ódio, apesar de ser pastor.

— As linguagens do ódio têm sido disseminadas nas redes sociais, têm sido propagandeadas para aniquilar adversários e para aniquilar todos aqueles que se oponham a este governo. Não só aniquilar adversários, aniquilar personalidades públicas, aniquilar aqueles que ousam, em algum momento, divergir. Isso não é democracia, isso não é da política  — disse o senador na reunião do colegiado.

Em resposta, o deputado afirmou ter usado uma figura de linguagem, que poderia ser facilmente entendida por quem não estivesse de má-fé. Ele afirmou nunca ter espalhado notícias falsas e disse que, no áudio, apenas está fazendo política. O deputado pediu que as consultorias da Câmara e do Senado façam uma análise sobre a legalidade do requerimento apresentado por Randolfe.

— O que não pode ser feito é se instrumentalizar esta CPMI para atingir um companheiro, só porque a pessoa perdeu o jogo. Ao perder um jogo político, usa esse tipo de instrumento para poder intimidar a gente. Isso não vai acontecer. Não vou aceitar esse tipo de intimidação — disse Feliciano.

Apoio

Também na reunião da CPMI, o senador Humberto Costa (PT-PE) se solidarizou com Randolfe, que, no seu entendimento, foi vítima de uma ação de estímulo à atuação de milícias digitais. Humberto informou que assinará o requerimento de Randolfe para que Feliciano seja convocado a depor na comissão.

No Plenário, senadores se pronunciaram sobre o caso. Para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, uma mensagem que incita grupos a agredirem um parlamentar por conta de uma manifestação divergente merece repúdio e causa indignação.

— Não é possível que a gente tenha que conviver num país que, a todo momento, as pessoas insistem em dividir. A minha indignação e a minha repulsa a manifestações como essas, que agridem a democracia, porque agridem o parlamentar que teve voto para representar o povo de um estado e do país.

O senador Veneziano Vital do Rêgo (PSB-PB) pediu à Câmara dos Deputados que tome providências sobre as declarações de Feliciano. Para Veneziano, Randolfe foi atacado de forma “desproposital, descabida, desnecessária e inconcebível”.

— Nós ouvimos, com a sua viva voz, o incitamento, o pedido, o chamamento para que outros companheiros seus no estado do Amapá pudessem enxovalhar, pudessem, entre aspas, “espancar” a imagem pública política do senador — lamentou.

Lucas Barreto (PSD-AP) disse que, mesmo com visões políticas diferentes, é preciso haver respeito. Para ele, a vida em democracia  exige equilíbrio e atitudes como a do deputado “não são de bom tom para a política, pois desgastam pessoas e instituições, alimentam o ódio e deixam mais distante a paz”.

Os senadores Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Flávio Arns (Rede-PR), Omar Aziz (PSD-AM) e Telmário Mota (Pros-RR) também manifestaram apoio a Randolfe.

Agência Senado.

Imagem: Roque de Sá.

guazelli

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