O empresário Paulo Marinho, morador de uma casa no Rio de Janeiro (RJ) que funcionou como central de atividades da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, negou que o espaço tenha sido usado para a emissão de notícias falsas durante as eleições de 2018.
Marinho falou nesta terça-feira (10) à comissão mista parlamentar de inquérito que investiga notícias falsas e assédio nas redes sociais (CPMI das Fake News). Ele confirmou que a sua residência abrigou integrantes da campanha, mas ressaltou que eles estavam envolvidos apenas com a comunicação oficial do PSL e que as atividades envolveram um contrato de aluguel.
— Cedi dois cômodos de um anexo da minha casa, que foram utilizados pela base de comunicação da campanha para gravação e edição dos programas de TV, de rádio, das redes sociais do PSL. Aceitei fazer essa generosidade porque aquele espaço não iria conflitar com o dia-a-dia da minha família.
O aluguel, no valor de R$ 8.750,00, foi custeado pelo partido, e não diretamente pela campanha do presidente Jair Bolsonaro. O contrato está no nome da esposa de Marinho, Adriana Bourguignon Marinho, e consta da prestação de contas do PSL.
A CPMI convocou Paulo Marinho em função de uma entrevista que ele concedeu em julho, na qual afirmou que distribuiu mensagens de WhatsApp a favor de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Em seu depoimento, o empresário explicou que não estava se referindo à emissão sistemática de notícias falsas, e reiterou que nenhuma operação desse tipo funcionou na sua casa.
— O que eu quis dizer é que, quando eu recebia coisas que tinham graça, memes, repassava para minha rede de WhatsApp, que contém 15 pessoas da minha intimidade. Não tem nenhuma consequência. Veículos [de imprensa] repetiram à exaustão me atribuindo coisas que jamais aconteceram na minha residência — afirmou.
Marinho confirmou que o publicitário Marcos Aurélio Carvalho foi o coordenador da equipe de comunicação que trabalhou no espaço alugado da sua casa. Carvalho é um dos sócios fundadores da AM4, uma das empresas investigadas pela CPI mista por disparos automatizados de mensagens eleitorais.
Carlos Bolsonaro
A deputada Natália Bonavides (PT-RN), autora do requerimento para convocação de Paulo Marinho, quis saber sobre a participação do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, nas atividades de comunicação. O empresário respondeu que Carlos não frequentava a casa e não tinha envolvimento com o trabalho que aconteceu lá.
— Se houve alguma participação dele na campanha, foi na gestão das redes sociais do pai, das quais ele detinha as senhas — apontou.
Marinho afirmou que há uma distinção entre a comunicação oficial, conduzida pelo PSL, e a militância virtual mobilizada em torno da figura do presidente. Para ele, foi a comunicação “séria”, conduzida por “pessoas da mais alta qualificação”, que elegeu Bolsonaro. Já os grupos de direita radical, que ele chamou de “bolsominions”, não são produtivos.
— Eles entendem que ou você está a favor do presidente ou está contra o Brasil, não há alternativa. É um pequeno grupo que se beneficia da sua falta do que fazer para atuar na internet. Um bando de desocupados que ficam colocando as suas frustrações pessoais para xingar os outros — explicou.
Carlos Bolsonaro foi apontado por outros depoentes da CPMI como coordenador das atividades desses grupos. Paulo Marinho disse que as posturas e atitudes públicas de Carlos são preocupantes.
— Acho que ele é uma pessoa perturbada. Precisa de um tratamento — disse, em resposta ao deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).
“Núcleo duro”
Os deputados Paulo Ramos (PDT-RJ) e Rui Falcão (PT-SP) questionaram Marinho sobre a sua relação com o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), também filho do presidente, e de quem ele é primeiro-suplente. O empresário afirmou que não tem contato com Flávio desde a eleição e que nunca teve expectativas de assumir o mandato ou de participar do governo.
Ainda no início do ano, Marinho deixou o PSL (hoje é filiado ao PSDB). Ele disse que nunca fez parte do “núcleo duro” de Jair Bolsonaro, e que embarcou na campanha a convite do ex-ministro Gustavo Bebbiano, de quem é amigo há 40 anos. Bebbiano foi advogado de Bolsonaro, presidente do PSL durante a campanha eleitoral e ministro da Secretaria-Geral da Presidência, mas deixou o cargo depois de denúncias sobre o uso de candidaturas de fachada da legenda para desviar recursos do fundo partidário. Ele também teve atritos com Carlos Bolsonaro.
Apesar de participar da articulação da campanha desde o início, o empresário garantiu que nunca teve intimidade com o presidente. No entanto, ele observou que isso tem se revelado uma vantagem:
— Quando o presidente faz qualquer manifestação de afeto, você se torna alvo do ódio dos filhos dele.
Agência Senado.
Imagem: Roque de Sá.
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