As demissões do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, causaram repercussão entre os senadores. O presidente Jair Bolsonaro também fez mudanças em outras pastas nesta segunda-feira (29).
Os parlamentares que se manifestaram sobre a saída de Ernesto Araújo foram unânimes em afirmar que o chanceler não tinha mais condições de prosseguir no cargo. No último dia 24, Ernesto Araújo esteve no Senado para tratar das dificuldades enfrentadas pelo Brasil na aquisição de vacinas contra a covid-19. Na ocasião, os senadores apontaram a responsabilidade do Itamaraty pelo atraso no acesso a vacinas e insumos vindos de outros países. Eles também cobraram gestões diplomáticas para acelerar a obtenção de imunizantes contra a covid-19 e pediram a renúncia do ministro.
Araújo compareceu ao debate acompanhado de Filipe Martins, assessor internacional do Palácio do Planalto. Durante a sessão remota, o assessor fez um sinal com as mãos considerado ofensivo pelos senadores, pois reproduz um dos símbolos de ódio utilizados por grupos de extrema direita e supremacistas brancos dos EUA. O episódio segue sob investigação do Senado.
“Catástrofe diplomática”
Nesta segunda-feira (29), o líder da minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN), disse que o agora ex-ministro das Relações Exteriores é uma “catástrofe diplomática”. No entanto, o senador também alega que a culpa da falta de vacinas para o país é de responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro, e que Ernesto Araújo estaria servindo como “bode expiatório”.
— A fritura do ministro das Relações Exteriores é evidente. Ele foi escalado como culpado da hora pelo atraso e pela ausência de vacinas no país. Que Araújo é uma catástrofe diplomática, ninguém nega. Mas ele é o bode que colocaram na sala para que outros não paguem o pecado a ser expiado. Se o Brasil não tem vacinas, o responsável é Bolsonaro. Foi ele quem sabotou a negociação das vacinas com países produtores e laboratórios — declarou Jean Paul.
Pelas redes sociais, o senador Jaques Wagner (PT-BA) informou que entrou, junto com os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Fabiano Contarato (Rede-ES), com uma representação no Ministério Público Federal para que Ernesto Araújo explique sua omissão diante da pandemia e por que não se empenhou para conseguir vacinas para o país enquanto era ministro.
“Como o chanceler bem declarou durante audiência no Senado, não há nenhum problema diplomático entre o Brasil e os outros países fabricantes de vacina. Assim, não há explicação para que ele não tenha buscado, com urgência e antecipação, negociações para trazer vacinas ao país”, argumentou Jaques Wagner.
O senador pelo PT da Bahia afirmou que o grau de instabilidade do governo Bolsonaro é assustador, seja pela constante troca de ministros, seja pelas orientações totalmente erráticas, “e quem paga a conta é o povo”.
Desaprovação
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) publicou que a passagem do chanceler pelo Itamaraty foi “patética” e “marcada pela destruição”. “Poucas pessoas foram tão desqualificadas para comandar o Itamaraty como Ernesto Araújo. A sua passagem por lá foi patética e marcada pela destruição de um legado de décadas construído pela diplomacia brasileira em política externa. É mais um que já vai tarde”, disse o parlamentar.
Fabiano Contarato (Rede-ES) também se pronunciou sobre a demissão do ministro. Ele afirmou que Ernesto Araújo provocou a destruição da imagem e da diplomacia do país: “É fácil ‘pedir pra sair’ quando seria obrigatoriamente ‘saído’: já vai tarde, Ernesto Araújo! Duro mesmo será seu legado de destruição para a imagem do país e para a nossa diplomacia profissional: seus efeitos deletérios serão sentidos por um longo período”.
“Reorganizar a rota”
Para o senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL), a troca do ministro das Relações Exteriores é “uma oportunidade de o Brasil reorganizar sua rota”.
“Que o novo caminho escolhido seja guiado pela ciência, com o objetivo de salvar vidas e recuperar o respeito internacional que nosso país realmente merece. A falta de um chanceler empático às dificuldades enfrentadas pelo Brasil durante a pandemia nos levou à enorme dificuldade atual na aquisição de doses de vacina. Estamos completamente atrasados perante o mundo”, afirmou Rodrigo Cunha.
Em nota, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que está em recuperação da covid-19, declarou que é Ernesto Araújo é “despreparado e radical”: “O ministro Ernesto Araújo não mostrou em nenhum momento capacidade para ocupar uma cadeira tão importante. Despreparado e com posicionamentos radicais, causou prejuízos severos para o país, em especial na disputa geopolítica pelas vacinas”.
Ministro da Defesa
Em relação à demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, os senadores avaliaram que o episódio também aprofunda a crise e compromete a imagem do governo Bolsonaro.
Em nota, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse ter confiança na lealdade das Forças Armadas Brasileiras.
“O Exército, a Marinha e a Aeronáutica não juram compromisso a uma pessoa; juram compromisso às instituições democráticas e à Constituição Brasileira. Destaco o seguinte trecho da nota do agora ex-ministro Fernando Azevedo: ‘preservei as Forças Armadas como instituições de Estado’. E é assim que deve ser. Tenho confiança na lealdade dos chefes das três armas à Constituição do Brasil”, ressaltou Randolfe em nota distribuída por sua assessoria.
No Twitter, o senador Paulo Rocha (PT-PA) comentou a demissão de Fernando Azevedo e Silva.
“O governo Bolsonaro está desabando! Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva acaba de pedir demissão. Por ser um governo fraco e incompetente, Bolsonaro pede o cargo ao general Fernando Azevedo e Silva, do Ministério da Defesa, para acomodar um afilhado de confiança. Dois ministros pedindo demissão no mesmo dia [outros ministros foram substituídos em seguida, nesta mesma segunda-feira]. O presidente da República deveria aproveitar o embalo e fazer o mesmo. O governo se perdeu no discurso ideológico e deixou o país no fundo do poço. A saída mais digna para Bolsonaro, neste momento, é a renúncia”, publicou Paulo Rocha.
Ao deixar o cargo, o ex-ministro da Defesa não anunciou o motivo do seu desligamento da pasta.
“Governo acéfalo”
Na avaliação do senador Fabiano Contarato (Rede-ES), “o que se observa no país é um governo acéfalo, que se destrói por autofagia, aliado do coronavírus e incapaz de salvar os brasileiros da morte na pandemia”. Ele também fez o seguinte questionamento: “A saída de mais um ministro indica que os militares vão pular do barco afundando?”.
Para Jean Paul Prates (PT-RN), o governo de Jair Bolsonaro encontra-se “em queda” e “sem rumo”: “Um governo que prefere as teorias negacionistas a abraçar a ciência e salvar vidas. Pessoas dignas e de caráter dificilmente aceitarão estar em um barco comandado por este presidente, que está nitidamente levando o país a um naufrágio. A saída dos titulares de dois importantes ministérios (Relações Exteriores e Defesa) da equipe de Bolsonaro é a sinalização de um governo em queda. Um governo sem rumo que tem destruído o país e a imagem do Brasil. Um governo que negligencia a saúde e a educação no Orçamento.”
“Desmantelo”
Ao comentar a saída do ministro da Defesa, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que o governo de Jair Bolsonaro representa um “desmantelo”.
“Aqui em Pernambuco a gente chama esse governo Bolsonaro de desmantelo. Mas pense num desmantelo grande. Agora, o general Fernando Azevedo pediu demissão do Ministério da Defesa. O último que sair apague a luz. De manhã, cai o ministro do ataque. De tarde, o da defesa. Mas o jogo só vai melhorar quando cair o técnico”, afirmou Humberto Costa, ex-ministro da Saúde de 2003 a 2005.
Nas redes sociais, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) reproduziu trechos de matérias jornalísticas segundo as quais o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, pode ser “o próximo a cair”. Em ocasião anteriores, Pujol já havia dito que os “militares não são parte da política e não querem política nos quartéis”.
A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) também comentou a demissão do ministro da Defesa: “Lamento a saída do ministro da defesa, general Fernando Azevedo e Silva. Que deus abençoe o nosso Brasil”.
Agência Senado.
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