Integrantes da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados e outros debatedores que estavam presentes na audiência pública desta segunda-feira (7) promovida pelo colegiado pediram a saída de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Cultural Palmares.
Camargo foi convidado para o debate, sobre a situação da entidade pública de promoção da afro-brasilidade, mas não compareceu. No momento da reunião, ele publicou em sua conta no Twitter que não se sentaria à mesa para dialogar com “pretos racistas”.
“Benedita da Silva me chama de ‘capitão-do-mato a mando do Bolsonaro’. Vá procurar sua turma! Não existe crise institucional na Palmares!”, manifestou-se. Em outra postagem, o presidente da fundação afirmou que as alegações de crise institucional se deviam aos cortes de recursos da “negrada vitimista e artistas queridinhos da militância.” “Preferi trabalhar a discutir narrativas mentirosas de quem vive da vitimização do negro e exige sua submissão à cartilha”, declarou.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que coordenava o debate, leu os tuítes de Sérgio Camargo e disse que, na próxima audiência pública, ele será convocado. “O atual presidente da fundação desconhece totalmente a turma dele, desconhece que a turma dele veio num navio. Ele talvez desconheça até como conseguiu chegar a uma universidade. Ele deve desconhecer totalmente o que é ver os filhos baleados por conta da cor da sua pele”, retrucou.
A parlamentar recusou a alcunha de vitimista. “Somos vítimas de um projeto genocida, de um racismo institucional e estrutural. Os capitães-do-mato são aqueles que mandavam matar seus iguais. Por isso vou repetir, que o capitão-do-mato da Fundação Cultural Palmares está destruindo aquilo que custou suor, lágrima e sangue.”
Denúncia e diligência
A deputada Erika Kokay (PT-DF) também chamou Sérgio Camargo de racista e capitão-do-mato. Ela informou que vai denunciá-lo à Procuradoria da Câmara por suas manifestações na mídia social. “Isso é um ataque ao Parlamento”, indignou-se.
Kokay também afirmou que deve apresentar um requerimento para fazer uma diligência na fundação, a fim de avaliar as condições do acervo da instituição. “O acervo da Fundação Palmares está jogado em caixotes, em prédios com umidade. É um desrespeito ao povo brasileiro”, criticou. “Queremos saber onde estão os presentes de Nelson Mandela, onde estão as obras de arte, onde está o acervo literário, onde estão as cartas de alforria.”
A deputada Lídice da Mata (PSB-BA) disse estar satisfeita de saber que Sérgio Camargo estava acompanhando a audiência virtualmente. “Um inimigo que não nos acompanha está achando que a gente já não tem valor”, comentou. “Vamos continuar nessa batida contra ele. Ele nos teme. Não gosto muito nem de falar no nome desse rapaz, porque ainda não vi nenhuma contribuição dele ao País. Parece que o governo Bolsonaro primeiro queria acabar com a fundação. Não acabou com medo de o movimento político progressista caracterizá-lo como um governo racista.”
Os deputados governistas Alê Silva (PSL-MG) e Luiz Lima (PSL-RJ) registraram presença na reunião, mas não se pronunciaram.
Orçamento
Entre os convidados da audiência pública, o ex-presidente da Fundação Cultural Palmares José Hilton Santos Almeida lembrou que a população negra tem demandas culturais e artísticas enormes. “Nunca tivemos orçamento ou braço suficiente para atender”, lamentou. Ele afirmou que a saída de Sérgio Camargo da presidência da fundação seria simbólica.
A ativista da Coalisão Negra por Direitos Wania Santana disse que as ações do atual presidente da fundação tinham como objetivo minar o crédito do movimento negro no Brasil. “O sr. Sérgio Camargo tem falhado em preservar a luta e memória do povo negro brasileiro”, opinou.
A socióloga e ativista do Movimento de Mulheres Negras Vilma Reis relembrou políticas públicas e eventos promovidos anteriormente pela fundação. “Foi a primeira instituição pública para tratar de direitos da nossa população. É uma instituição do Estado brasileiro, não um capricho de um governo que empurra nosso povo para morte”, declarou.
Representante do Conselho Pastoral dos Pescadores, Maria José Honorato acusou Sérgio Camargo de prevaricação por desrespeitar a legislação e não proteger comunidades quilombolas. “É inadmissível que a Fundação Cultural Palmares deixe as comunidades relegadas”, criticou.
A educadora social e advogada Patrícia Félix também atacou Sérgio Camargo. “É um homem negro que me envergonha”, disse. Ela acrescentou que as políticas culturais da fundação poderiam salvar e resgatar comunidades de periferia que sofrem com a violência. “A Fundação Cultural Palmares nasceu para prevalecer os direitos da negritude, seja ela quilombola ou favelada”, declarou.
Agência Câmara de Notícias.
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