“Eu peço às autoridades que lutem por justiça em nome do Marcelo. Infelizmente, meu filho recém nascido não poderá conviver com seu pai. Ele foi vítima de um ato de violência. Ele lutou e não resistiu. Só peço justiça.” De óculos escuros e com a voz embargada, Pamela Silva, viúva do guarda municipal Marcelo Arruda, clamou durante o ato realizado em Foz do Iguaçu, na manhã deste domingo (17), em memória do petista assassinado no último sábado (09).

“Eu quero agradecer a todos que estão presentes. Perceber durante o velório do Marcelo a quantidade de pessoas que ele se relacionava, me fez entender a imensidão da diversidade de pessoas que ele tinha contato. E essa é a marca que ele deixa para todos. Precisamos respeitar a diversidade entre as pessoas”, destacou a viúva.

Em um evento denominado por seus organizadores como suprapartidário e inter-religioso, sediado na Praça da Paz, no Centro de Foz do Iguaçu, o ato em memória de Marcelo Arruda foi marcado por falas emocionadas em defesa da tolerância e com duras críticas à escalada da violência política no país.

“Independente de lado político, temos que condenar, com toda nossa força e energia, qualquer tipo de violência política que presenciarmos. Não podemos aceitar. É preciso deixar claro que não é proibido pertencer ou apoiar qualquer partido político, o que é proibido, o que é crime, é matar pessoas. Isso precisa ser condenado”, defendeu ao microfone Luís Donizete, irmão de Marcelo Arruda.

Filho mais velho da vítima, Leonardo Arruda relembrou ao público parte da trajetória do pai. “Meu pai foi um homem simples, criado numa favela, que lutou muito para conquistar tudo que teve. Ele sempre me ensinava sobre o valor das coisas. E da importância de lutarmos. Mas a luta dele era com respeito. Devemos lutar para que o ódio acabe, para que tenhamos paz e essa guerra acabe. Não podemos ter mais famílias passando por isso”, destacou.

Motivação política

Representante da coordenação nacional dos policiais antifascismo, Denilson Neves fez duras críticas ao discurso de ódio que tem sido propagado no Brasil pela extrema direita bolsonarista.

“Precisamos destacar que o Marcelo era um trabalhador policial. Dizer isso é importante para que todos tenham consciência do cenário político que vivemos. Este ato não é de alegria, é um ato de protesto, de dor, mas também de dar avisos. Foi preciso perder um colega para abrirmos os olhos sobre este movimento brutal que está em andamento. Quem apertou o gatilho contra o Marcelo foi também o presidente Bolsonaro, que estimula e promove a violência em todo o país”, disse.

No mesmo sentido, a presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, abordou o contexto político da morte do petista. “O companheiro Marcelo foi assassinado por defender uma posição política. Quem o matou o fez por isso. O autor e a vítima não se conheciam, não tinham rixas anteriores. O assassino foi até a festa para exterminar um grupo político e isso tem sido incentivado há alguns anos. Precisamos denunciar e seguir lutando pela vida e pela democracia”, afirmou a líder partidária.

A vereadora em Foz do Iguaçu, Yasmin Hachen (MDB), criticou a conclusão do inquérito da Polícia Civil do Paraná que decidiu não indiciar o autor por crime político. “Foi crime político, sim. Precisamos pressionar as autoridades. Se isso continuar, o crime de homofobia deixará de ser crime de homofobia. O crime de racismo não será mais crime de racismo. O Marcelo foi vítima de um crime político, a motivação foi política. E enquanto sociedade, precisamos cobrar para que a verdade seja estabelecida”, afirmou a parlamentar.

Ao final do ato, representantes da Igreja Católica, da Igreja Anglicana, da Umbanda e da Mesquita Islâmica, realizaram preces em memória de Marcelo Arruda e pela paz no Brasil. Balões brancos com sementes foram lançados para simbolizar os ideias do guarda municipal assassinado.

“Que as ideias e o legado do companheiro Marcelo germinem por meio destas sementes. Enquanto viveu, ele lutou o bom combate. Os bons momentos ficarão com seus amigos e familiares. Esta é a nossa homenagem”, finalizou Mirá Rocha, amiga da vítima.

Reportagem de Bruno Soares, da Brasil de Fato PR.

guazelli

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