A Caixa Econômica Federal analisa as cláusulas do contrato de patrocínio firmado com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) após as denúncias de abuso sexual contra o ex-técnico da seleção Fernando Carvalho Lopes. Acusado por mais de 40 ginastas e ex-ginastas, Lopes é investigado em um inquérito da Polícia Civil de São Paulo e pelo Ministério Público Estadual.
Em nota, a Caixa informou que avalia “todas as medidas cabíveis para a correta verificação dos fatos e consequências pertinentes”.
A Caixa começou a patrocinar a confederação em 2006. O contrato, que teve início no ano passado e tem validade até 2020, é de R$ 20 milhões.
Procurada pela Agência Brasil, a CBG informou que não comentaria a questão. A Caixa, por sua vez, informou que não renovará o convênio mantido com a prefeitura de São Bernardo do Campo, que vencerá em agosto deste ano.
A instituição não confirma se a decisão foi motivada pelas denúncias contra Lopes, que trabalhava em um clube da cidade. “A decisão de não renovação ocorreu por uma decisão estratégica para o ano, considerando inclusive a dotação orçamentária disponível”, informou a Caixa. O convênio com a administração municipal previa o patrocínio ao projeto Esporte São Bernardo – Atletismo e Ginástica, que era desenvolvido na Arena Olímpica São Bernardo.
O Clube Mesc publicou nota em seu site na qual diz que, há dois anos, quando surgiram as primeiras acusações, Fernando de Carvalho Lopes foi “de imediato e, por cautela”, transferido para serviços administrativos. Segundo o clube, Lopes não mantém, desde então, contato direto com atletas e alunos da ginástica, ou de qualquer outra modalidade esportiva do clube. O Mesc também negou que tivesse algum convênio com a prefeitura ou que recebesse dinheiro da administração municipal.
Anteontem (7), procurada pela Agência Brasil, a prefeitura de São Bernardo informou que não tem projeto financiado ou conveniado com o Mesc e que o técnico Fernando Lopes nunca fez parte do quadro de profissionais da pasta nesta gestão.
Acordo com MPT
A Confederação Brasileira de Ginástica informou que estabeleceu um acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT) para avaliar o melhor procedimento para o caso. A CBG pretende ainda ouvir o treinador Marcos Goto, coordenador técnico da instituição que, segundo os atletas, tinha conhecimento dos abusos praticados por Lopes. A entidade acrescenta que firmou, com o Ministério Público do Trabalho, um termo de ajuste para combater o assédio e os abusos moral e sexual, além da prática de doping, violência e fraudes na modalidade esportiva.
Em reunião na última sexta-feira (4), a diretoria da CBG decidiu elaborar uma cartilha com dicas, recomendações e divulgação de condutas proibidas. O documento será elaborado em conjunto com os procuradores do Trabalho. O ginasta campeão olímpico nas argolas, Arthur Zanetti, foi escolhido para participar das campanhas.
CPI
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal que investiga maus-tratos contra crianças e adolescentes aprovou nesta terça-feira dois requerimentos do senador Magno Malta (PR-ES), para que Lopes e o ginasta Diego Hypolito sejam ouvidos. Como é acusado, Lopes será convocado para depor e o ginasta, convidado para falar.
“Conversei com o Diego Hypólito e pude, em nome desta CPI, desta Casa e em nome de todos aqueles que se levantam contra esse crime absolutamente nojento, que é o crime de violência sexual ou violência moral ou psicológica contra uma criança ou um adolescente, agradecer pela coragem do Diego de publicamente falar do bullying”, disse Malta, que preside a CPI.
Investigação
As denúncias sobre abusos cometidos pelo ex-treinador de ginástica artística motivaram uma investigação da Polícia Civil em São Bernardo do Campo. Na última sexta-feira (4), a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do ex-técnico e apreendeu um HD externo, um pendrive, CDs e DVDs. O caso está sob segredo de Justiça.
O Ministério Público de São Paulo abriu ontem um procedimento, chamado notícia do fato, para apurar se os atletas de ginástica artística que treinam em um clube de São Bernardo do Campo necessitam de medidas protetivas. O procedimento foi aberto pela Promotoria de Justiça da Infância e Juventude da cidade. De acordo com a Promotoria, o procedimento pretende apurar, neste momento, se há necessidade de aplicação de medidas de proteção aos adolescentes que disseram ter sido vítimas de abuso, pois o professor já foi afastado do cargo.
Nota da prefeitura
Em nota divulgada agora à noite, a prefeitura de São Bernardo do Campo informa que o contrato com a Caixa Econômica Federal tem vigência até agosto e que a administração municipal, até este momento, “não recebeu nenhuma notificação oficial do banco sobre a manutenção ou não do convênio”, mas que “acredita na renovação do novo ciclo de patrocínio”. “Caso haja uma rescisão contratual, a prefeitura garante que dará seguimento ao programa de treinamento, mesmo que com recursos próprios”, acrescenta a nota.
Agência Brasil
Edição: Pedro Lima.
Imagem: Fernando Frazão.
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