O juiz federal Abel Gomes, relator da Operação Furna da Onça no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), converteu em preventiva a prisão temporária de 6 dos 7 deputados alvos da investigação, além de manter a detenção sem prazo para acabar de outros três parlamentares.

Gomes atendeu em parte à PR-RJ (Procuradoria Regional da República), que pediu a conversão da prisão temporária de sete deputados em preventiva. O magistrado decidiu soltar apenas Marcos Abrahão (Avante), que, no entanto, foi proibido de frequentar a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

O pedido ocorreu por causa dos indícios de vazamento de informações sobre a operação, deflagrada na última quinta-feira (07/11). Os elementos dos pedidos não foram divulgados porque o processo está sob sigilo.

“A volta ao exercício do cargo de deputados estaduais ou de outras funções públicas é considerada pelos procuradores um risco para a coleta de provas nesta investigação e para a própria ordem pública, diante da possibilidade de continuarem praticando os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, por isso também foi pedido o afastamento de suas funções como deputados”, afirma a Procuradoria.

Dez parlamentares foram alvos de mandados de prisão sob suspeita de receber uma mesada do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) para votar em favor dos interesses do Palácio Guanabara durante seu segundo mandato (2011-2014). Sete foram presos temporariamente na quinta e outros três já haviam sido presos na Operação Cadeia Velha, deflagrada há um ano.

A decisão de Gomes atinge André Corrêa (DEM), Neskau (PTB), Luiz Martins (PDT), Chiquinho da Mangueira (PSC), todos reeleitos este ano, além de coronel Jairo (Solidariedade) e Marcelo Simão (PP), que não conseguiram renovar seus mandatos.

A nova investigação sobre a Alerj tem como base a delação premiada do economista Carlos Miranda, espécie de gerente da propina arrecadada por Cabral. Ele era o responsável por administrar todos os recursos ilegais obtidos pelo emedebista.

O colaborador do MPF (Ministério Público Federal) afirmou que um grupo de políticos recebia dinheiro de Cabral, em seu segundo mandato (2011-2014), em troca de apoio parlamentar chamado de mensalinho pela Promotoria. Os valores pagos mensalmente variavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil, dependendo da posição ocupada pelo deputado.

Arquivos de um sistema de contabilidade entregues pelos doleiros delatores Vinicius Claret e Cláudio Barboza, que operacionalizavam parte da propina de Cabral, corroboraram as informações do economista. Cruzamento de ligações telefônicas também confirmaram o contato entre portadores do dinheiro em espécie com assessores dos deputados suspeitos.

O superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, afirmou que os deputados movimentaram cerca de R$ 54 milhões em propina.

“A Alerj se transformou numa verdadeira propinolândia”, disse o procurador-regional da República Carlos Aguiar.

Há a suspeita de que outros deputados receberam os pagamentos, já que o presidente da Assembleia posto ocupado tanto por Jorge Picciani (MDB) como por Paulo Mello (MDB) recebia valores maiores a serem distribuídos com outros colegas, segundo as investigações.

Um dos responsáveis por entregar e receber propinas de Cabral, Sérgio de Castro Oliveira, afirma que o número de envolvidos no esquema da Alerj pode chegar a 60 deputados a casa tem 70 membros. Funcionário da família desde a década de 1980, ele afirma que o dinheiro da “caixinha” das empresas de ônibus do estado era entregue diretamente aos deputados ou ao presidente da Casa para redistribuição.

“Quando Cabral virou governador havia uma lista do presidente da casa, que continha esse número de mais de 40 parlamentares; que a segunda lista era de pessoas que não se sentiam a vontade de ficar sob o comando do presidente e era uma lista composta por, mais ou menos, 20 nomes como, por exemplo, Chiquinho da Mangueira”, afirma a transcrição do depoimento de Serjão, como ele é chamado.

Fonte: Folha de São Paulo

guazelli

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