Em dezenas de cidades do Paraná aconteceram manifestações no 8 de março relatadas ao Brasil de Fato por colaboradores de diversas regiões, com milhares de mulheres lutando por direitos sociais e a seu corpo, contra a reforma da previdência e o atual governo, pela causa indígena, por reforma agrária, pelos direitos de todos os gêneros e por justiça em relação ao assassinato da vereadora Marielle Franco.

Em Curitiba, mais de 7 mil mulheres participaram de atividades, que acontecerem desde o meio dia e se encerraram perto das 20h, mesmo com a chuva que caiu na capital. Para Juliana Mittelbach, da Frente Feminista, uma das organizadoras, a manifestação superou as expectativas. “A gente sai daqui com a avaliação de ter trazido de 7 mil a 10 mil mulheres para as ruas. Isso mostra como as pautas feministas, nossos debates, estão chegando à sociedade.”

Outro ponto que destaca é a diversidade de pessoas presente. “Vieram mulheres indígenas, mulheres das ocupações das periferias, das classes trabalhadoras, dos movimentos rurais”, diz. E o motivo dessa unidade, para ela, é porque todas estão percebendo os retrocessos do atual governo. “Que é conservador e fundamentalista e está indo contra a vida das mulheres, contra a pauta que a gente demorou tanto tempo para conquistar e ainda impedindo que tenhamos novos avanços.”

Reivindicações

As mulheres trans também se agregaram às manifestações deste ano. Para Renata Borges, mulher trans e ativista dos direitos LGBTI, “a importância deste ato está na visibilidade e promoção das mulheres, sejam elas CIS ou trans. Neste momento, por exemplo, temos vários temas para debater juntas, como a reforma da previdência. Vocês vão se perguntar, o que uma mulher trans tem a ver com este tema? Tudo. Nossa expectativa de vida é de 28 anos, além de termos dificuldades de empregabilidade. E as dores de umas, são as dores de todas. ”

Mulheres indígenas também estiveram presentes no ato. Jaqueline Muita Jacintho, da etnia Kaigang, da Aldeia Apucaraninha, na região de Londrina, afirma que foram convidadas a participar pela primeira vez da organização do 8 de março e que essa união entre todas as mulheres é muito importante. “Estamos aqui para mostrar que a mulher indígena existe e resiste. Estamos na luta sempre por sobrevivência. Uma luta árdua, desde pequena. Estamos juntas com todas as mulheres. Ninguém solta a mão de ninguém. ” Jaqueline trabalha na Casa da Saúde Indígena e fez questão de trazer debate sobre a municipalização da saúde indígena. “O novo ministro que veio com essa proposta não respeitando nossos argumentos e nem nos ouviu. Ele simplesmente quer acabar com a Secretaria de Saúde Indígena e vai ser retrocesso e genocídio. ”

Participação das mulheres indígenas foi destacada pela atriz Letícia Sabatella, também presente em Curitiba. “As falas das mulheres indígenas foram extremamente fortes, contra o feminicídio de todas, e em especial da indígena, sobre a saúde da mulher indígena e a luta para que preserve sua cultura e saúde. No lugar de destruí-los, devemos ter humildade e aprender com eles e elas”.

Solange Perez, sem terra do Assentamento Santa Maria, em Paranacity, é outra que destaca a importância de todas estarem unidas. “Hoje é um dia especial. Neste momento de conjuntura de golpe, é importante estarmos reunidas. Não é para receber flores, mas para lutar por nossos direitos, que este governo quer tirar com a reforma da previdência.”

Somos todas Marielle

No começo da tarde do 8 de março, militantes do MST, MAB, FETRAF, PT, CUT e diversas organizações saíram da Vigília Lula Livre e foram em marcha até o Espaço de Formação e Cultura Marielle Vive. Para homenagear Marielle Franco, inauguraram uma placa com o seu nome, fixada em frente ao local. E puxaram gritos de ordens como: “Ô abre alas que as mulheres vão passar, nosso lugar não é no forno nem no fogão, a nossa chama é fogo da revolução!”.  “Pela vida das mulheres, somos todas Marielle”.  “Sem feminismo não há socialismo”.

Marielle também foi lembrada na marcha organizada pelas mulheres negras, que aconteceu a noite em Curitiba. Uma placa “Rua Marielle Franco” foi colocada em um dos trechos da marcha, no cruzamento das Ruas Marechal Deodoro com a Marechal Floriano Peixoto, no centro da cidade.

Por todo o estado

Dezenas de cidades do Paraná tiveram manifestações relatadas por colaboradores do Brasil de Fato em todas as regiões do Estado. Entre elas, Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, Francisco Beltrão, Guarapuava, Quedas do Iguaçu e Catanduvas. Em Florestópolis, Porecatu e Centenário do Sul ocorreram audiências públicas propostas pelas sem-terra, dentro da jornada nacional que estão fazendo. A ideia, segundo Ceres Hadich, integrante da Direção estadual do MST, “é falar com a sociedade sobre a violência que as mulheres vêm enfrentando, discutir o aumento do feminicídio, além de denunciar a ausência de reforma agrária no atual governo e a impunidade no caso de Marielle” Para ela, além de debater, é necessário levantar as possibilidades de enfrentamento para essas questões.

Reportagem: Brasil de Fato PR.

Edição: Ana Carolina Caldas

Imagem: Giorgia Prates.

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