Representantes da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro criticaram ontem (3) a possibilidade de federalização das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Para o chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, Antonio Ricardo, qualquer mudança na investigação seria um retrocesso. Segundo ele, as quatro prisões realizadas comprovam a capacidade dos órgãos estaduais.
“Qualquer tentativa de retirada da investigação do rumo que está seguindo será extremamente prejudicial à continuidade investigativa”, disse o delegado, que afirmou que os trabalhos estão avançados e somente o trabalho de se inteirar sobre o que já foi apurado demandaria muito tempo. “Se eventualmente isso acontecer, certamente será um retrocesso para a investigação”, disse durante entrevista coletiva à imprensa realizada na Delegacia de Homicídios da Capital para apresentar os resultados da operação de hoje.
Antes de deixar o cargo de procuradora-geral da República, Raquel Dodge pediu ao Superior Tribunal de Justiça a federalização da investigação para apurar supostas irregularidades na apuração. No mesmo pedido de deslocamento da competência para a esfera federal, Raquel Dodge apresentou pedido de abertura de um novo inquérito contra suspeitos que teriam participado de uma “encenação de investigação” para conduzir a apuração a falsos mandantes e esconder a verdadeira autoria dos assassinatos. Os pais da vereadora, morta no dia 14 de março de 2018, são contrários à federalização das investigações.
A promotora do MP-RJ e coordenadora do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Simone Sibilio, disse que o pedido de federalização é “desarrazoado”, porque precisaria haver inércia ou omissão da esfera local para justificá-lo. “Se há uma coisa que não tem nesse caso é inércia e descaso”, disse Simone, afirmando que todos os esforços foram feitos para que se chegasse à denúncia contra os supostos executores do crime.
Os representantes da Polícia Civil e do Ministério Público estadual detalharam hoje os resultados da operação contra quatro acusados de obstrução à Justiça que teriam escondido provas contra Ronnie Lessa, polícia militar reformado apontado como atirador que matou Marielle e Anderson. O próprio Ronnie também foi alvo de um novo mandado de prisão na operação.
Segundo os policiais, a mulher de Ronnie, Elaine Lessa, e o irmão dela, Bruno Pereira Figueiredo, se articularam para buscar uma caixa com armas em um apartamento usado por Ronnie como arsenal um dia depois que ele foi preso pelo crime, em março deste ano. Elaine e Bruno foram presos hoje.
José Márcio Montovano, que também foi detido na operação de hoje, teria acompanhado Bruno no apartamento para retirar os artefatos, e Josinaldo Lucas Freitas teria alugado um barco no quebra-mar da Barra da Tijuca e levado a caixa com armas até as proximidades das Ilhas Tijucas, onde o material foi descartado. Mergulhadores da Marinha e do Corpo de Bombeiros chegaram a fazer 28 mergulhos em busca das armas na região, mas não as encontraram.
O delegado titular da Delegacia de Homicídios da Capital, Daniel Rosas, afirma que uma das hipóteses da investigação é que a arma usada para matar Marielle e Anderson esteja entre as que foram lançadas ao mar.
Rosas afirma que as prisões de hoje não buscam forçar ninguém a colaborar, já que Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, que estaria com Ronnie no momento do assassinato, serão ouvidos amanhã no tribunal do júri. Apesar de os quatro presos de hoje responderem por obstrução, o delegado acredita que mais informações sobre o caso poderão ser descobertas.
“O ciclo de amizade que a investigação apurou é muito grande entre eles. Não há dúvidas de que possam saber de outros crimes praticados pelo Ronnie”.
A operação cumpriu 27 mandados de busca e apreensão contra os acusados, que já tiveram a denúncia acolhida pela 19ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Foram apreendidos documentos, celulares e um objeto que se parece com uma arma e ainda será periciado.
Agência Brasil.
Imagem: Marcelo Camargo.
Comentar