No entendimento dos familiares de Marcelo Arruda, assassinado em Foz do Iguaçu pelo bolsonarista José Jorge da Rocha Guaranho, a conclusão das investigações tocadas pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa foi precipitada.

Apresentada à imprensa nesta sexta-feira (15), por meio de entrevista coletiva, a conclusão do inquérito que apurou a causa do crime foi mal recebida por familiares e amigos que testemunharam o atentado.

“Dada sua complexidade e importância diante do contexto político que vivemos, a quem interessa esse inquérito ser concluído de forma tão rápida?”, questiona o advogado Ian Vargas, um dos defensores escolhidos pela família da vítima para acompanhar o andamento das investigações.

Ao Brasil de Fato Paraná, Vargas compartilhou uma nota em que estão elencados seis pontos considerados fundamentais para a devida elucidação do crime.

“O primeiro ponto que destacamos diz respeito à delegada Iane Cardoso que, mesmo após ser afastada da presidência do inquérito, continuou acompanhando e com acesso ao andamento das investigações. Essa delegada tem alinhamento político ideológico com o presidente Bolsonaro. Ela não poderia participar”, pontua.

Iane Cardoso foi afastada do caso após viralizarem nas redes sociais publicações da delegada em apoio a Jair Bolsonaro e em ataque ao Partido dos Trabalhadores. Quem assumiu a investigação em seu lugar foi a delegada Camila Cecconello.

Em seguida, o representante dos familiares de Arruda destaca que os advogados nomeados para participarem das investigações não tiveram acesso ao inquérito. “E, por parte da autoridade policial, isto viola o art. 7º, XIII e XIV da Lei 8906/94. Apenas este ponto já é algo muito grave. Não tivemos nosso direito constitucional garantido”, critica.

Não bastasse o descumprimento das normas legais vigentes, os advogados reclamam ainda que a delegada responsável pelo caso não requereu produção de provas pelos familiares da vítima. “Sequer fomos respondidos. Apresentamos o pedido e fomos ignorados.”

A conclusão do inquérito sem que fossem concluídas as perícias nos bens apreendidos também foi alvo de críticas. “A perícia do celular do autor sequer foi concluída. E mesmo assim anteciparam em quatro dias a conclusão do relatório. Estamos muito surpresos pela velocidade. A motivação política não citada”, pontuam os advogados.

Na coletiva desta sexta, a delegada Cecconello informou que a Polícia Civil teve acesso ao celular de Guaranho nesta quinta (14) e o material está, agora, em posse do Instituto de Criminalística. A perícia deve demorar, em média, 20 dias para ser concluída. Segundo a delegada, o inquérito tinha prazo para terminar até a próxima terça (19) e, por isso, não foi esperada a conclusão da perícia.

Agora, o relatório da Polícia Civil seguirá ao Ministério Público, que terá cinco dias para oferecer a denúncia ou pedir mais diligências. 

Apelo pela federalização do caso

No mesmo sentido, o PT do Paraná divulgou nota em que critica a rápida conclusão do inquérito policial. Para o partido, as conclusões divulgadas nesta sexta “são prematuras” e podem levar a uma interpretação equivocada de que houve um “crime comum”.

“O encerramento apressado das investigações desse crime bárbaro é, acima de tudo, uma ofensa à família de Marcelo, além de um prognóstico preocupante de conivência das autoridades com os futuros episódios de violência que ameaçam as eleições deste ano”, destaca a nota.

O PT-PR ainda demonstra preocupação com a restrição do acesso dos advogados da família ao inquérito. “Reiteramos nosso apelo para que este inquérito seja federalizado com a participação da Justiça Eleitoral, PGR e STF, para que salvaguardem o direito dos cidadãos a manifestarem livremente suas opções políticas, sem que corram risco de serem assassinados”, pede o partido.

Reportagem de Bruno Soares, da Brasil de Fato PR.

guazelli

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