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O desenvolvimento da comunidade Nova Esperança, localizada no município de Campo Magro, região metropolitana de Curitiba, é nítido. Com comércios instalados ao longo da via principal, passa a ideia de uma vila já consolidada. Surgida em 25 de maio de 2020, em plena pandemia de covid-19, a Comunidade Nova Esperança abriga hoje cerca de 1,2 mil famílias, e após três anos de disputas já não possui mais ameaça de reintegração de posse, motivo de preocupação de cada um dos moradores que ali vivem.

“O povo agora pode dormir tranquilo, sem o medo de o trator derrubar as casas”, inicia a conversa Valdecir Ferreira, o Val, da coordenação do Movimento Popular por Moradia (MPM), organização responsável pela ocupação. “A questão agora é como vai ser o processo de regularização”, diz ele sobre a área da ocupação.

A comunidade vem se estruturando e hoje está pronta para que as famílias vivam de forma digna. “No início foi tudo muito difícil, não tinha estrutura nenhuma, a gente teve que construir do zero”, relata Márcia Aguiar. Ela e a família vivem em um terreno de 200m², padrão de todos os lotes distribuídos. Na área construíram duas casas, um brechó e uma oficina de bicicletas, de onde tiram o sustento da família.

Sobre o MPM

O Movimento Popular por Moradia está presente na ocupação desde o primeiro dia, foi ele o responsável pela organização comunitária que se estabeleceu no local. São as lideranças do movimento as responsáveis pelas famílias ocupantes e pela intermediação entre os moradores e o poder público. Após quatro meses de ocupação, a comunidade Nova Esperança se organizou em 11 setores. Cada setor tem entre 80 a 120 famílias, o que representa cerca de 300 a 600 pessoas. Para dar conta de coordenar tantos moradores e restaurar o terreno abandonado por anos, o MPM se organiza em três coordenadores gerais, seis lideranças e 14 chefes de setor. Cada chefe de setor fica responsável pela administração de 80 famílias, podendo ser duas pessoas caso o número de famílias seja ultrapassado. Os chefes são responsáveis pela fiscalização e gestão dos espaços, assim como a organização das reuniões semanais, onde são expostas as necessidades dos moradores e apresentados os projetos que estão sendo desenvolvidos na comunidade.

Quem vê a comunidade Nova Esperança atualmente não imagina as condições em que os terrenos se encontravam nos primeiros dias de ocupação. As construções já existentes no local estavam abandonadas e degradadas, a vegetação estava alta e sem poda, escancarando o descaso do poder público com a área.

No início de 2020, o local apresentava grande risco à saúde e segurança pública da região. Um ano e seis meses após a ocupação, os moradores restauraram as infraestruturas existentes no local e as transformaram em salas de aula, centro cultural, padaria e cozinha comunitária, biblioteca, sala de informática e espaços comerciais. Além disso, cada lote distribuído também conta com horta orgânica e fossa ecológica.

Sobre a terra

O terreno foi doado por particulares para a FAS, em 1984. Em 2009, a área teve os serviços encerrados. Dentre as razões para o fechamento, a prefeitura de Curitiba alegou que o terreno era distante do município. Em 2012, três anos após o encerramento das atividades no local, a área foi cedida pela prefeitura de Curitiba, via Outorga Permissão de Uso de Imóveis, tendo como permissionário o estado do Paraná. E a área estava abandonada desde então.

Ocupação ecológica

A Nova Esperança se estabeleceu em um espaço urbano, mas também de preservação ambiental. As casas são rodeadas pela Floresta Ombrófila Mista, um ecossistema presente no bioma da Mata Atlântica e que se estende em grande parte da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Na Nova Esperança as casas não se isolam da mata e dividem o espaço (ou o terreno) com árvores e vegetação. 

Sabendo que a região seguia leis de preservação ambiental, as lideranças se prontificaram de não destruir vegetações nativas e importantes para o ecossistema do município. Para algumas dessas lideranças, ocupar em terreno ambiental era uma experiência nova. Coube ao MPM e a esses líderes, a missão de informar e regrar os novos moradores sobre uma forma sustentável de se ocupar. 

Estudo Plantear

Em busca de compreender a situação do local e considerar as condições de moradia existentes na área, o Ministério Público do Paraná procurou a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para solicitar um estudo sobre a viabilidade, ou não, da permanência dos moradores ali. E o coletivo Plantear, programa de extensão da UFPR, realizou um estudo para verificar a viabilidade de ocupação do local:

“No estudo buscamos identificar os limites entre a ocupação e as potenciais áreas de risco para os moradores. Levantamos questões como: é possível aproveitar o terreno com moradia? Se sim, em quais condições isso é possível?” explica Daniele Pontes, coordenadora do coletivo Plantear. “Essas são as perguntas que a gente tenta responder, mas para isso precisamos considerar questões ambientais, geológicas e a legislação existente”, conclui. 

Via assessoria.

Foto: Lucas Daniel.

guazelli

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