Autor do projeto que transferia o salário-educação — cerca de R$ 9,3 bilhões — da União para os estados e municípios (PL 5.695/2019), o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) decidiu retirá-lo da pauta nesta segunda-feira (18). Em audiência pública sobre o projeto na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), o senador argumentou que não haverá tempo hábil de tramitação para que a norma produza efeitos já em 2020, e a proposta de emenda à Constituição do Pacto Federativo (PEC 188/2019) já engloba várias medidas para conferir mais flexibilidade aos estados e municípios para aplicação do dinheiro arrecadado.
— A PEC já foi protocolizada na Casa e é um assunto exatamente igual. Quero ter argumentos para trabalhar isso com o próprio governo — disse Izalci Lucas.
Ele afirmou que o único objetivo do seu projeto era tirar o salário-educação do teto constitucional, de modo a elevar em R$ 9,3 bilhões a dotação orçamentária da Educaçao sem mexer na sistemática dos percentuais ou dos procedimentos relacionados a esses gastos. Mas o PL que foi alvo de críticas de sindicalistas, agricultores familiares e servidores do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ao dispor-se a ouvir os debatedores convidados, o senador declarou esperar que a audiência pública contribua para discutir a PEC do Pacto Federativo, especialmente quanto ao comprometimento da eficácia dos programas educacionais caso a dotação orçamentária seja descentralizada.
Continuidade de programas
Representando a Associação dos Servidores do FNDE, Adalberto Domingos da Paz elogiou Izalci pela retirada do projeto, mas pediu apoio para garantir a continuidade dos programas vinculados ao fundo.
— Teríamos a descontinuidade do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e do conjunto das diretrizes da educação — avaliou.
Ele elogiou a eficiência dos processos centralizados de compra e distribuição de livros didáticos dentro do FNDE, e argumentou que a mudança substancial na distribuição do salário-educação exigiria mais debate para evitar prejuízo às regiões Norte e Nordeste. No mesmo sentido, João Antônio Lopes de Oliveira, coordenador geral de apoio à manutenção escolar do FNDE, pediu “temperança” na discussão para que programas importantes não sejam descontinuados.
Albaneide Maria Lima Peixinho, do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), também criticou a PEC do Pacto Federativo, que, segundo entende, causa prejuízo a estados e municípios de menores recursos; além disso, não há garantia de que os entes federados venham cumprir as diretrizes nacionais. José Valdivino de Moraes, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), disse que o esvaziamento do FNDE compromete as missões determinadas pela Constituição e pela Lei de Diretrizes e Bases.
— A simples descentralização pode trazer problemas econômicos na forma de aplicação dos recursos. O preço dos insumos é elevado quando diluído nos sistemas estaduais e municipais.
Desmonte do Estado
José Ângelo de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), defendeu a centralização dos processos de avaliação e aquisição de livros didáticos, e Raimundo Luiz Silva Araújo, da Associação Nacional de Pesquisadores em Financiamento da Educação, classificou a descentralização desse programa como um contrassenso. Ele teme que o descomprometimento da União resulte em corte de programas federais.
— É um desmonte da estrutura do Estado brasileiro — lamentou.
Edélcio Vigna, representante da União Nacional das Organizações Cooperativistas Solidárias, mencionou a dificuldade na fiscalização dos programas de merenda escolar, frequentemente sujeitos a fraudes nos estados e municípios, e sugeriu a cobrança de impostos sobre dividendos e igrejas como forma de contribuir com o financiamento de setores como saúde e educação. Antoninho Rovaris, secretário de política agrícola da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), cobrou políticas com regularidade visando “a melhor educação possível”.
Agência Senado.
Imagem: Roque de Sá.
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