O Brasil registrou, em 2019, 208 ataques a veículos de comunicação e jornalistas, um aumento de 54% em relação a 2018. Do total, 114 casos foram de descredibilização da imprensa e 94 de agressões diretas a profissionais. Sozinho, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi responsável por 58% destes ataques, chegando a 121 casos. Estes são os dados divulgados nesta quinta-feira (16) pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) no Rio de Janeiro.

É a primeira vez que a Fenaj contabiliza em seu relatório anual as tentativas de descredibilização da imprensa. Em 2019, a modalidade tornou-se a principal forma de ameaça à liberdade de imprensa no Brasil e foi incluída no relatório diante da institucionalização da prática por meio das falas e discursos do presidente da República. De acordo com o relatório, é a postura do presidente da República que mostra que a liberdade de imprensa está ameaçada. Para a presidenta da Fenaj, Maria José Braga, as declarações de Bolsonaro institucionalizam a violência contra a imprensa e seus profissionais.

Além dos ataques, a Federação registrou, em 2019, 2 assassinatos, 28 casos de ameaça e intimidação, 15 agressões físicas, 10 casos de censura ou impedimento do exercício profissional, 5 ocorrências de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais, 2 casos de injúria racial e 2 ações de violência contra a organização sindical da categoria. “A censura é uma das formas mais subnotificadas no meio e mesmo assim identificamos 10 casos em 2019”, declarou a presidente da Fenaj durante o lançamento do relatório.

Paraná

Segundo a Fenaj, foram registrados 8 casos de violência contra o jornalista no Paraná:

Londrina – 9 de janeiro: os repórteres cinematográficos Bruno Costa (Ric Record Londrina) e Rodrigo Silva (Rede Massa/SBT) foram ameaçados por lutadores de jiu jitsu. Eles registravam um atendimento de socorristas do Siate a um idoso que havia infartado na academia, quando foram cercados e ameaçados.

Cascavel – 13 de março: a jornalista Juliet Manfrim, repórter do jornal O Paraná, sofreu ameaças por meio de uma rede social, após publicação de reportagem de sua autoria sobre o funcionamento do presídio federal de Catanduvas. As ameaças à jornalista foram enviadas de um computador do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que divulgou nota armando tratar-se de um ato isolado, mas que o responsável ainda não foi identificado.

Curitiba – 15 de maio: a jornalista Luana Kaseker da Silva Freire, repórter do jornal Gazeta do Povo, foi hostilizada pelo presidente do Conselho Deliberativo do Clube Atlético Paranaense, Mario Celso Petraglia. Durante uma entrevista coletiva, Petraglia impediu a jornalista de concluir uma pergunta, mandou que ela se calasse e ainda ameaçou não autorizar a participação do jornal em futuras coletivas do clube.

Curitiba – 27 de maio: três profissionais e um estudante de Jornalismo foram agredidos durante manifestação a favor do governo federal e da reforma da previdência, em Curitiba. Os repórteres fotográficos Hedeson Alves, da Gazeta do Povo, Franklin Freitas, do jornal Bem Paraná, e Giorgia Prates, do Plural, foram empurrados e esmurrados por manifestantes, que também lhes dirigiam palavrões. O estudante de jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Hiago Zanolla, também foi uma vítima da violência. Ele cobria a manifestação para o jornal laboratório da universidade.

Sertanópolis – 14 de novembro: os jornalistas Guilherme Batista e Marcelo Bonomini, respectivamente repórter e repórter cinematográfico da Ric Record de Londrina, foram cercados e ameaçados por funcionários de um posto de combustível. Eles produziam uma reportagem sobre um incêndio de grandes proporções no estabelecimento, no qual três pessoas morreram vítimas de queimaduras. A Polícia Militar foi chamada ao local para conter os funcionários.

Londrina – Dezembro: os jornalistas Larissa Sato e Oswaldo Militão, da Folha de Londrina, foram ameaçados pelo deputado federal, Emerson Petriv (PROS-PR), mais conhecido como Boca Aberta. O parlamentar demonstrou descontentamento com reportagens publicadas no jornal e publicou mensagens em suas redes sociais, armando que iria processar os jornalistas. Na ocasião, ele chegou a mandar cópias das ações que prometia ajuizar na justiça.

Foz do Iguaçu – 6 de dezembro: o jornalista Aluízio Palmares está respondendo a processo judicial, por ter divulgado informações sobre crimes cometidos pelo extenente do Exército Brasileiro Mario Espedito Ostrovski. Advogado na tríplice fronteira, Ostrovski é citado como torturador no livro Brasil Nunca Mais (1985) e no Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (2015), por ter praticado crimes de tortura em 1969, quando atuava no Primeiro Batalhão de Fronteiras, localizado em Foz do Iguaçu.

Situação nos estados

A região Sudeste se manteve como a região brasileira com mais casos de violência direta contra jornalistas, repetindo a tendência dos últimos seis anos. Ao todo, foram 44 ocorrências (46,81%). “O estado de São Paulo continua sendo o estado com mais casos e se dá, em nossa análise, devido às manifestações. São Paulo é o campeão, infelizmente, seguido pelo Distrito Federal e pelo Rio de Janeiro”, reiterou Maria José Braga, da Fenaj. Em seguida, ficou a região Centro-Oeste com 18 casos (19,15%) com destaque para o Distrito Federal com 13 (13,83%) ocorrências.

O Sul do país contou com 15 casos (15,96%), o Nordeste com 11 (11,70%) e o Norte com 6 (6,38%).

Tipos de mídia

Pelo segundo ano consecutivo, os jornalistas do segmento de televisão são os mais agredidos. Em 2019, 35 jornalistas de TV foram vítimas de agressão direta. Em segundo lugar, foram os jornalistas de jornais. Ao todo, 33 profissionais foram agredidos. Desde 2015, profissionais do segmento de TV e de jornal se revezam entre os mais agredidos. Em terceiro lugar estão os jornalistas de mídia digital (portais, sites e blogs) com 23 casos de agressão registrados em 2019.

Braga apontou que os repórteres cinematográficos e repórteres fotográficos são as maiores vítimas no país. De acordo com ela, os profissionais são mais visíveis por portarem equipamentos e, no Brasil, ao contrário de os proteger, este fato os torna mais vulneráveis e consequentemente tornam-se alvos.

O relatório aponta ainda para 8 casos de agressão contra profissionais de revista, 6 casos contra jornalistas de rádio, 3 assessores de imprensa e 1 profissional em agência de notícias.

Agressores

Em 2019, os políticos foram os principais autores de ataques a veículos de comunicação e jornalistas, totalizando 144 ocorrências, sendo a maioria de tentativa de descredibilização da imprensa (114), mas também registrando agressões diretas aos profissionais (30). Só o presidente, por exemplo, foi responsável por 121 das agressões.

Durante o lançamento, a Fenaj e os sindicatos, que foram responsáveis pela elaboração do relatório, destacaram que os dados são alarmantes e exigem ação dos jornalistas, das empresas e do governo para combater a prática.

Com informações da Fenaj: Federação Nacional dos Jornalistas.

Edição e adição: Pedro Lima.

guazelli

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