O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou nesta terça-feira (12) que pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a divulgação do vídeo de uma reunião ministerial na qual o presidente da República, Jair Bolsonaro, teria defendido uma interferência pessoal na Polícia Federal.
A reunião foi mencionada pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, em depoimento prestado no âmbito de um inquérito que apura denúncias de interferência de Bolsonaro no comando da Polícia Federal. O pedido de Randolfe foi encaminhado ao ministro Celso de Mello, relator do caso no STF.
— [Retirar o sigilo] é um dever republicano que a nação exige neste instante — disse o senador durante a sessão deliberativa remota desta terça.
Moro deixou o governo no último dia 24, após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. O ex-ministro relatou que vinha sofrendo pressões de Bolsonaro para que a PF mantivesse o governo informado sobre operações que envolvessem a família do presidente. Segundo Moro, Bolsonaro defendeu abertamente o aparelhamento da PF para esse fim numa reunião ministerial no dia 22, que foi registrada em vídeo. A gravação foi entregue ao STF.
O vídeo da reunião foi exibido nesta terça-feira, em audiência sigilosa, para integrantes da Procuradoria-Geral da República e outras pessoas envolvidas na condução do inquérito. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) também defendeu a retirada do sigilo, afirmando que informações sobre o seu conteúdo já têm chegado ao público.
— A imprensa dá conta de que o presidente teria pressionado pela mudança na Polícia Federal em nome de seus filhos. Isso é uma denúncia grave que precisa ser apurada. O Brasil não merece ter um presidente sob suspeição — disse ela durante a sessão.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) também alertou para o fato de que trechos do vídeo já estão vazando pela imprensa, e que eles revelam as ações de Bolsonaro para proteger seus filhos. Ele pediu que o Senado intervenha junto ao STF para ter acesso ao material.
— Isso não pode ficar embaixo do tapete. As palavras usadas, segundo imprensa, são duras e não deveriam estar numa reunião de ministros com o presidente da República. É um momento grave do Brasil e o Senado tem obrigação de estar atento às revelações — disse Otto Alencar.
O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), por sua vez, disse aguardar com expectativa que a gravação venha a público, e observou que o próprio presidente Jair Bolsonaro já teria se manifestado a favor da divulgação de trechos do vídeo da reunião.
Outros senadores se manifestaram sobre o assunto pelas redes sociais. Humberto Costa (PE), afirmou que, segundo as informações já divulgadas, a gravação revela “crimes de responsabilidade” que precisam vir a público.
“O Brasil tem o direito de saber o que o presidente tramou, em conjunto com o seu alto escalão, para proteger a si e a sua família da investigação sobre os delitos que lhe são atribuídos”, escreveu.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) também avaliou que a reunião pode oferecer evidências suficientes para que Bolsonaro seja removido da Presidência.
“Caso a gravação contenha tudo o que a imprensa diz que contém, estamos diante da prova de que o presidente interferiu politicamente na PF. A casa pode ter caído de vez para Bolsonaro”, afirmou.
Por sua vez, o líder do Podemos, Alvaro Dias (PR), alertou para “vazamentos seletivos” e disse que a gravação deveria ser publicada para eliminar “dúvidas”.
“A divulgação da íntegra do vídeo passa a ser uma exigência de transparência e do dever à publicidade dos atos públicos”, defendeu.
Agência Senado.
Imagem: Waldemir Barreto.
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