Grupos de manifestantes bolsonaristas dobraram a aposta golpista nesta quarta-feira (2), feriado de finados no país. Além dos atos antidemocráticos que bloqueiam estradas pelo país, apoiadores de Bolsonaro foram às portas de quartéis em diferentes partes do país clamar por “intervenção militar”.

Sem aceitar a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais do último domingo, grupos protagonizaram cenas que viralizaram nas redes sociais, como um protesto em que dezenas de pessoas ergueram o braço, em gesto semelhante à saudação nazista, enquanto cantavam o hino nacional. O episódio ocorreu em São Miguel do Oeste (SC) e já está sendo apurado pelo Ministério Público.

As sedes dos Comandos Militares do Leste, na cidade do Rio de Janeiro, e do Sudeste, em São Paulo, foram palcos de grandes aglomerações contrárias ao processo democrático.

Além disso, segundo balanço divulgado pela Polícia Rodoviária Federal por volta das 14h40 desta segunda, havia 150 interdições ou bloqueios em estradas federais pelo país. Outros 667 pontos de manifestação tinham sido dispersados, segundo a corporação.

Como interpretar?

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em entrevista ao Brasil de Fato, os protestos golpistas foram inflamados pelo discurso dúbio do presidente Jair Bolsonaro (PL) na última terça (1º), quando se manifestou pela primeira vez após a derrota no segundo turno das eleições sem deixar claro que reconhece a vitória de Lula. 

“As próprias redes bolsonaristas se deram conta de que Bolsonaro não fez grande aceno para que as paralisações fossem encerradas. Esse tipo de mensagem dúbia inflama os bolsonaristas. O que se esperava de um chefe de estado, apesar de derrotado, era dizer que aceitava, e falar para os simpatizantes deixarem as estradas”, avalia.

Ramirez acredita que os grupos seguirão mobilizados até que o presidente em fim de mandato dê sinais claros para o fim das manifestações. Enquanto isso não acontecer, haverá grupos insistindo nas mobilizações antidemocráticas.

O especialista aponta que a permanência dos bloqueios nas estradas é prejudicial ao próprio Bolsonaro, já que há uma série de consequências negativas para o dia a dia. Setores como os de saúde, indústria e comércio já sentem os impactos.

“O chefe de estado tem a capacidade de influenciar na opinião de seus seguidores. Ele deveria ter solicitado um recuo. Ao não fazer isso, a tendência é que agrave rejeição a ele, já que isso vai prejudicar o cotidiano da maioria dos brasileiros”, aponta.

O cientista político vê que o movimento, apesar de barulhento, tem pouca força, já que está restrito a uma fatia muito específica da população, sem efetiva organização política e partidária. Além disso, não há apoio das elites econômicas, e até mesmo aliados e líderes do bolsonarismo, como o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão, condenaram as ações.

“São movimentos locais, de extremistas políticos. São pessoas totalmente deslocadas, que sequer respeitam a Constituição. Tudo isso vai envolvendo o baixo clero e visões fundamentalistas, distorcidas da própria política. Dificilmente você vai ver as próprias Forças Armadas fazerem parte disso”, complementa.

Reportagem de Felipe Mendes, da Brasil de Fato.

guazelli

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