Os bloqueios ilegais promovidos por bolsonaristas insatisfeitos com o resultado das eleições iniciados no último domingo (30), enfim, deixaram as estradas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), desde a noite de quinta-feira (3) não há qualquer rodovia com bloqueio total no país. Entretanto, alguns autoproclamados “patriotas” seguem em vigília junto a quartéis pelo país, protagonizando cenas que vão do ridículo ao criminoso.
Para o historiador e professor aposentado Valério Arcary, autor do livro “Ninguém Disse que Seria Fácil”, o movimento atingiu seu ápice na última quarta, feriado de Finados, quando bolsonaristas mobilizaram grande número de pessoas, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, para pedir “intervenção federal” – um eufemismo para golpe de Estado. De lá para cá, a mobilização diminuiu. Porém, ele alerta: o bolsonarismo segue tendo força.
“Em geral essas manifestações são de um setor ativista mais radicalizado. O bolsonarismo é uma corrente neofascista, tem hegemonia dentro da extrema-direita brasileira, que é mais ampla. Tem um pé na legalidade e um pé fora. O que assistimos nesta semana vai voltar a ocorrer. Bolsonaro teve uma derrota eleitoral, mas o bolsonarismo no geral está intacto”, avalia.
Para Arcary, a sinalização dúbia de Bolsonaro no discurso da última segunda-feira, aliada a outros movimentos, como a postura dos filhos dele, os parlamentares Flávio e Eduardo Bolsonaro, explicitam a forma do bolsonarismo se comunicar. Com isso, a chama golpista permanece acesa no coração dos seguidores mais radicalizados.
“Por exemplo, teve um áudio do Eduardo Bolsonaro convocando abertamente para manifestações nas portas dos quartéis na última quarta, apesar do Jair, no papel de presidente, ter feito a declaração que, na prática, reconhece a derrota eleitoral. Essa ambivalência será permanente. [Jair Bolsonaro] tenta se reposicionar como líder mais importante da oposição [ao governo Lula]”, aponta Arcary.
Para o historiador, é preciso que lideranças de esquerda tenham atenção para derrotar o bolsonarismo, que seguirá com robusta representação parlamentar na próxima legislatura.
“Creio que vai se abrir uma polêmica na esquerda sobre a tática de como construir um movimento que seja capaz de derrotar o bolsonarismo. Não podemos normalizar a existência de uma corrente de extrema-direita neofascista no brasil. É uma das etratégias para transformação do Brasil: derrotar politicamente esta corrente”, conclui.
Detenções e multas
De acordo com a PRF, 966 manifestações em estradas tinham sido desfeitas até as 16h desta sexta. Havia ainda 11 protestos em andamento, espalhados por quatro estados (Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia), mas em todos as interdições eram parciais.
Ainda segundo informações da corporação, 45 pessoas foram detidas nas ações de desmobilização dos atos. Mais de 5.400 autuações foram realizadas, e o valor das multas somadas chega a R$ 14 milhões.
Reportagem de Felipe Mendes, da Brasil de Fato.
Comentar