O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, investigado por disseminação de fake news e por participação em atos antidemocráticos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tratou uma funcionária do gabinete do ministro Ricardo Lewandowski como informante, mostram mensagens coletadas pela Polícia Federal. É o que diz a Folha
A Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal (PF) obteve as informações por meio de quebra de sigilo telefônico.
As gravações trazem conversas entre o blogueiro e Tatiana Garcia Bressan, 45, que estagiou no gabinete de Lewandowski de 19 de julho de 2017 a 20 de janeiro de 2019, antes da abertura dos inquéritos contra Allan, em março daquele ano.
As conversas começaram em 23 de outubro de 2018 e vão até 31 de março de 2020.
A estagiária relata ter dificuldade em trabalhar com o ministro, mas diz que está “lá para aprender”. De acordo com o relatório da PF, a informação “naturalmente desperta o interesse de Allan”, que pede a colaboração de Tatiana.
“Fique como nossa informante lá”, diz o blogueiro, cerca de duas horas depois do início da conversa. A estagiária responde prontamente: “Será uma honra. Estou lá kkk”.
Allan pergunta também o que de mais espantoso Tatiana vê no gabinete e ela responde: “O que vi de mais espantoso é que realmente eles decidem o que querem e como querem. Algumas decisões são modificadas porque alguém importante liga pro ministro”.
Em um dos diálogos ela cita como exemplo a decisão do ministro Luiz Fux que proibiu a Folha de realizar uma entrevista com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se encontrava preso, às vésperas da eleição de 2018. Ela diz que foi um “corre-corre danado”.
Fux reverteu uma liminar (decisão provisória) que havia sido concedida por Lewandowski.
A estagiária afirma que “vê” que o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, “tem trânsito com quase todos os ministros”.
“Quando ele liga, o Lewandowski o atende prontamente. Dizem por lá q o pedido de suspensão de liminar feito pelo partido NOVO foi combinado a pedido do Fux e Toffoli. Vc sabe que o Villas Boas botou um general pra trabalhar junto com o Toffoli na presidência, né?”, diz a estagiária, intercalando os dois assuntos.
A estagiária também comenta que virou “piada” na corte a fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em julho de 2018: “estavam todos esperando o soldado e o cabo para fechar o STF”.
Procurada pela Folha, Tatiana afirmou por mensagem que nunca atuou como informante de Allan. Disse que apenas tinha ligação com o blogueiro pois ambos foram alunos de Olavo de Carvalho. Allan não respondeu.
Em nota, o gabinete do ministro Lewandowski afirmou que todas as decisões proferidas por ele “têm fundamentação constitucional e a eventual modificação delas ocorre por meio de recursos cabíveis, apresentados nos autos e julgados individual ou coletivamente (plenário ou turmas)”.
“Como de praxe no STF, o ministro Lewandowski atende os telefonemas institucionais, principalmente vindos de autoridades da República. Na época mencionada, o general Villas Bôas era comandante do Exército Brasileiro”, disse o gabinete.
Reportagem de Julinho Bittencourt, da Revista Fórum.
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