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A atriz Léa Garcia deixou um vasto legado nas artes e fãs, em todo o país, que admiram o seu trabalho. Atores, pesquisadores, artistas, autoridades prestaram homenagens à atriz que morreu nesta terça-feira (15), aos 90 anos, na cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul. Léa Garcia seria homenageada hoje na cidade com o troféu Oscarito, a mais tradicional honraria concedida, desde 1990, pelo Festival de Cinema de Gramado.

“O papel que Léo Garcia desempenhou na história da cultura brasileira, da cultura contemporânea, é simplesmente inominável”, diz o professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB), Nelson Inocencio. Ao lado de nomes como Ruth de Souza e Zezé Motta, Léa Garcia foi uma das primeiras atrizes negras da televisão brasileira.

“O que temos hoje, essa visibilidade que começa a acontecer na teledramaturgia brasileira e no cinema, isso é consequência de luta que vem de mais de 70 anos atrás”, destaca o professor.

A atriz nasceu em 11 de março de 1933 no Rio de Janeiro. Aos 16 anos, conheceu o Teatro Experimental Negro e ingressou na companhia liderada por Abdias Nascimento. Em 1952, estreou como atriz no Teatro Recreio, com o espetáculo Rapsódia Negra de Abdias Nascimento.

A lista dos trabalhos de Léa Garcia tanto no teatro quanto na televisão e no cinema é extensa e está registrada na página do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros (Ipeafro). A atriz participou de filmes como Ganga Zumba e O Maior Amor do Mundo, ambos de Cacá Diegues, e Cruz e Sousa, Poeta do Desterro, de Sylvio Back. Em 1957, concorreu à Palma de Ouro, conquistando o segundo lugar no Festival de Cannes pela atuação como Serafina no filme Orfeu Negro, de Marcel Camus. Na televisão, atuou, por exemplo como Rosa em Escrava Isaura.

Assim como as obras, a lista de premiações e homenagens também é longa. Ela recebeu a medalha Pedro Ernesto da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, em 1994; a medalha da Academia Brasileira de Letras; o Golfinho de Outro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e o Tatu de Prata de Melhor Atriz, em 2007; além da menção honrosa no Festival de Gramado de 2008 pela atuação em Hoje tem Ragu, de Raul LaBancca; e da homenagem no Festival de Cinema do Rio Grande do Norte de 2009, pela atuação no filme Dias Amargos, de Sílvio Coutinho.  

Em 2004, foi vencedora do prêmio Kikito de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado por Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo, pelo qual recebeu também o prêmio de melhor atriz pelo júri popular.

Léa Garcia

A atriz Léa Garcia em Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo – Divulgação/Festival de Cinema Latino-Americano de SP

Legado

De acordo com Inocencio, foram muitos os caminhos abertos por Léa Garcia. “Importante reconhecer e valorizar essas contribuições. Hoje temos visibilidade de artistas negros como Lázaro Ramos, que é expoente da cultura nacional, e outros artistas. Isso se deve ao legado dessas pessoas, desses artistas que na década de 1940 decidiram criar um teatro negro no Brasil”, diz.

“Eu estou bem emocionada. Ela é muito preciosa para a gente. É muito preciosa para o movimento negro, é uma pedra que vai seguir sendo lapidada por todos nós porque ela é muito grande, é muito gigante tudo que ela construiu para gente”, diz a produtora Erika Candido, da Kilomba Produções, empresa de criação e produção de conteúdos, que tem o compromisso de fomentar o mercado com profissionais negros. 

Erika Candido, que tem 40 anos, tem certeza de que é fruto dos caminhos que dona Léa, como ela chama, abriu. “Assim como eu, muitas gerações de artistas negras, negros e negres que se colocaram no mundo de outra forma a partir da luta dessa mulher negra que tanto fez e tanto vai seguir fazendo porque eu acho que ela fez uma passagem, foi descansar, mas tudo que ela construiu vai seguir com a gente para a gente fazer a manutenção”, diz a produtora.

Nas redes sociais, a atriz recebeu diversas homenagens. “Eu não sei como fazer esta despedida Dona Léa. Dói. Sua vitalidade, sua força, sua jovialidade e seu talento sempre foram inspiradores. Poder trabalhar com a senhora foi um sonho alimentado por anos, e realizado com muita celebração. Obrigado por abrir caminhos para nós e por em cada aparição sua nos hipnotizar com esse olhar único e interpretações poderosas. Te honro, te celebro e te amo”, escreveu o ator Lázaro Ramos.

O cineasta Joel Zito Araújo, que era amigo e trabalhou com a atriz, escreveu: “Perdemos essa manhã uma pessoa linda, talentosa, generosa, fundamental para a cultura e as artes do Brasil, Léa Garcia. Amiga, musa, mãe artística, parceira. Tenho uma imensa gratidão por essa mulher. Perdemos ela no apogeu do seu reconhecimento artístico, que veio tarde mas veio. Ela que foi uma das duas primeiras estrelas brasileiras a ser reconhecida pelos grandes festivais internacionais, disputando o prêmio de melhor atriz em Cannes com Orfeu Negro, no final dos anos 50. Atriz fundamental do TEN. Protagonista em dois filmes meus. Enquanto o Brasil perde uma estrela de primeira grandeza, o Orum fica mais bonito”. 

A atriz e apresentadora Luana Xavier estrearia uma peça com Léa Garcia, a quem chamava carinhosamente de vó. “Minha avó, eu não tô conseguindo entender. A gente tem uma peça pra estrear juntas. Você me prometeu que ainda pisaríamos em muitos palcos pelo Brasil. Estar com você em cena é às vezes esquecer de atuar só pra te admirar. E estar com você nos bastidores é rir de histórias divertidíssimas, bater texto direto porque você é muito dedicada ao seu ofício. Eu te amo absurdamente. E eu confesso que não tô sabendo como lidar. Chamar pessoas de vó mesmo, só fiz isso com minha avó paterna Ernestina, minha avó materna Chica Xavier e mais recentemente Helena Theodoro e você. Essa neta aqui vai sentir muito a sua falta. Léa Garcia é ouro. E ouro não se perde, não se desfaz. Ouro brilha infinitamente. Te amo, minha avó. Te amo eternamente”.

Pela rede social X, antigo Twitter, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou alguns dos trabalhos da atriz e prestou condolências aos familiares, amigos e fãs. “Lea Garcia foi uma grande atriz e uma pioneira no enfrentamento do racismo e na abertura de espaços para atrizes negras na televisão e no cinema. E, de forma marcante, impactou nossa cultura, ao interpretar a grande vilã Rosa no clássico Escrava Isaura e ao ser indicada ao prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Cannes por Orfeu Negro. Ao longo de seis décadas, Lea iluminou nossas telas em mais de 70 filmes e novelas, e também teve um papel muito importante como incentivadora para seguidas gerações de artistas negros na nossa cultura. Seu legado, tão reconhecido por todos nós, receberia mais um prêmio em Gramado, onde ela estava quando faleceu, antes de receber essa homenagem. Meus sentimentos aos familiares, amigos e aos fãs de Lea”. 

Agência Brasil.

guazelli

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